No Japão, empresas especializadas em provocar separações de casais estão chamando atenção por atuarem de forma questionável. Conhecidas como wakaresaseya, essas agências oferecem um serviço que promete romper relacionamentos amorosos em troca de altas quantias.
Apesar de funcionarem como uma espécie de “detetive do fim do amor”, muitas operam de maneira duvidosa, com métodos que já resultaram em escândalos, processos judiciais e prejuízos.
Essas agências afirmam ser capazes de conquistar o coração de alguém, mesmo que a pessoa esteja namorando ou casada. O cliente paga para que o parceiro ou parceira da pessoa-alvo seja convencido de uma suposta traição ou passe a desconfiar do relacionamento. Para isso, agentes se infiltram na vida do casal e tentam criar situações que provoquem o rompimento. O serviço, que cruza a linha da ética, também costuma cruzar a da legalidade.
Um caso conhecido envolveu um homem que, em 2008, contratou uma agência para acabar com o novo relacionamento da ex-namorada. Ele queria uma segunda chance. Quando tentou não pagar o valor combinado, alegando que o serviço feria os bons costumes, o tribunal deu ganho de causa à agência. A Justiça reconheceu que, mesmo sendo um serviço discutível, o contrato era legal.
Desde então, o número de empresas que oferecem esse tipo de serviço aumentou. Muitas se apresentam como agências de investigação, mas têm foco exclusivo em criar estratégias para destruir relacionamentos. Os métodos incluem aproximação com o parceiro ou parceira da vítima, coleta de informações privadas e tentativas de gerar provas que possam ser usadas como justificativa para uma separação.
O valor cobrado é alto. Um homem identificado como Nomura contou que pagou 4 milhões de ienes para tentar separar uma colega de trabalho do namorado, que depois virou marido. Mesmo alertado por uma amiga sobre os riscos, ele procurou uma dessas empresas. A promessa era de que um agente faria amizade com a mulher e ganharia sua confiança. Ao mesmo tempo, outro infiltrado se aproximaria do marido e o levaria a bares e casas noturnas para tentar conseguir fotos embaraçosas.
Depois de um ano e meio, a agência não apresentou resultados nem provas de que havia feito qualquer progresso. Nomura pediu explicações, mas não recebeu nenhuma informação concreta. A empresa alegou que o caso estava em andamento, mas se recusou a mostrar conversas ou imagens, afirmando que as informações obtidas com os alvos eram confidenciais. Pouco tempo depois, o site da empresa foi desativado e os telefones deixaram de funcionar.
Outra mulher entrevistada pela emissora 8 Kantere relatou que pagou 2,2 milhões de ienes a uma agência para tentar reatar com o ex. Também não teve resultado. Quando procurou outro serviço, atendeu a ligação e percebeu que era a mesma pessoa da empresa anterior, agora com outro nome.
Especialistas do setor apontam que esse tipo de prática tem prejudicado a imagem de detetives particulares sérios. Matsumoto Kunitaka, vice-presidente da Associação Japonesa de Investigadores, defende que haja uma qualificação oficial para esse tipo de trabalho, para evitar que qualquer um se passe por investigador profissional. Ele também orienta que as pessoas busquem ajuda de amigos ou familiares antes de contratar esses serviços.
Mesmo após prejuízos, alguns ainda insistem. A mulher que gastou 15 mil dólares disse que finalmente conseguiu se reconciliar com o ex-parceiro por meio de uma nova agência. Já Nomura, que perdeu dinheiro e não teve resultado, não demonstrou arrependimento. Quando questionado sobre como o marido da mulher se sentiria, ele respondeu que foi o próprio homem quem caiu na armadilha e que isso era “merecido”.
Enquanto isso, as wakaresaseya continuam a atuar no Japão, muitas vezes com sites e nomes diferentes, sempre à procura de novos clientes dispostos a tudo para conquistar alguém — mesmo que isso envolva destruir a vida de terceiros.
