Em meio a uma grave escassez de trabalhadores, pequenas e médias empresas do Japão estão apostando cada vez mais na contratação de estrangeiros para preencher vagas e garantir mão de obra qualificada. Atualmente, mais da metade dos 2,3 milhões de estrangeiros empregados no país atuam em empresas com menos de 100 funcionários.
A empresa Koganei Seiki, localizada na cidade de Iruma, província de Saitama, é um exemplo dessa tendência. Fabricante de motores para esportes motorizados, a companhia conta com 40 trabalhadores vietnamitas entre seus cerca de 300 funcionários. Todos possuem vistos de “trabalhador qualificado” e atuam na operação e programação de máquinas industriais.
“Eles se formaram em universidades de ponta no Vietnã e têm alta capacidade técnica”, afirmou Yusuke Kamoshita, presidente da empresa.
Em outro setor, a tradicional pousada japonesa Todaya, na cidade de Toba, província de Mie, emprega 37 estrangeiros de 11 países, incluindo China e Mianmar. Alguns são estagiários técnicos e outros atuam com visto de trabalhador específico. Muitos têm fluência em inglês, o que ajuda no atendimento aos turistas internacionais.
“Ensinei a eles os costumes, a etiqueta e a cultura japonesa, porque o mais importante é como o hóspede se sente”, disse o presidente Junzaburo Terada.
Segundo o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, o número de trabalhadores estrangeiros aumentou de 787 mil em 2014 para 2,3 milhões em 2024.
Apesar do crescimento, o atual sistema de estágio técnico, criado em 1993 para transferir habilidades profissionais aos estrangeiros, enfrenta críticas. Hoje, cerca de 470 mil estrangeiros atuam como estagiários, muitos em condições precárias, com relatos de jornadas excessivas e salários não pagos. Em 2023, o número de estagiários que abandonaram seus empregos bateu recorde: 9.753 casos, segundo a Agência de Imigração.
Para tentar resolver essas falhas, o governo pretende acabar com o atual modelo e criar, até 2027, uma nova categoria de visto chamada “treinamento e emprego”. O novo sistema permitirá que os trabalhadores mudem de empresa após um ou dois anos, diferente do modelo atual, que exige permanência de três anos no mesmo local. No entanto, a migração para cidades grandes, como Tóquio e Osaka, poderá ter restrições.
Em 2024, Tóquio concentrava 585 mil trabalhadores estrangeiros, equivalente a 25% do total nacional. Em seguida, vinham Aichi (229 mil) e Osaka (174 mil). Na contramão, a província de Akita tinha apenas 3.536 estrangeiros registrados, o menor número do país.
Estudos indicam que o Japão continuará perdendo força de trabalho. A população em idade ativa, entre 15 e 64 anos, deve cair de 75 milhões em 2020 para 55,4 milhões em 2050.
“Falta gente, principalmente nos setores de transporte e assistência a idosos”, disse Tomoya Suzuki, do Instituto de Pesquisa NLI. “Para manter a sociedade e a economia, é preciso pensar em como japoneses e estrangeiros podem conviver de forma harmoniosa.”
Fonte: The Japan News