A escassez de arroz no Japão tem levado bancos de alimentos à beira do colapso, afetando diretamente famílias de baixa renda, pessoas em situação de rua e refugiados que dependem dessas doações para se alimentar.
Mesmo com a liberação emergencial de arroz por parte do governo japonês, os estoques estão sendo consumidos rapidamente e não têm sido suficientes para atender à demanda crescente.
Um exemplo claro é o da associação Asile, com sede no bairro de Arakawa, em Tóquio. Em março, a câmara fria da entidade, com capacidade para armazenar 4 toneladas, continha apenas 100 quilos de arroz. No início de abril, esse volume subiu para algumas centenas de quilos, mas ainda é considerado muito abaixo do necessário.
A Asile distribuía, em média, 1 tonelada de arroz por mês para 29 grupos que oferecem refeições a crianças de famílias pobres e apoiam pessoas em vulnerabilidade social. No entanto, desde o final de março, a organização precisou suspender as atividades por falta de arroz.
“Estamos em situação de emergência, sem nenhum arroz em estoque”, informou a associação em comunicado divulgado no site oficial.
As doações, que vinham principalmente de agricultores parceiros e de famílias comuns, diminuíram drasticamente com o aumento do preço do arroz. A Asile ainda não encontrou novas fontes confiáveis de fornecimento.
Segundo o funcionário Mitsuo Nakamura, de 73 anos, é a pior crise enfrentada pela entidade em 25 anos de atuação. “Se isso continuar, perderemos a chance de conectar essas pessoas necessitadas com a sociedade”, lamentou.
Alta demanda, pouca oferta
Para tentar conter a crise, o Ministério da Agricultura começou em fevereiro a distribuir arroz estocado gratuitamente para bancos de alimentos. No total, foram prometidas 823 toneladas a 76 organizações em todo o país, entregues em seis remessas ao longo de seis meses.
A Second Harvest Japan, uma das maiores entidades do setor, recebeu 8,5 toneladas no fim de março, das 50 previstas. Ao consultar cerca de 400 grupos parceiros, recebeu um número muito alto de pedidos e só conseguiu atender 32 grupos inicialmente.
“Na próxima remessa, queremos priorizar os grupos que ainda não receberam arroz e ajustar melhor a distribuição”, disse Yuji Shibata, representante da entidade.
Hiroaki Yoneyama, presidente da Associação Nacional de Promoção dos Bancos de Alimentos, que reúne 65 instituições, confirmou que a falta de arroz começou no ano passado e vem afetando operações em todo o país.
Para contornar a situação, muitas organizações reduziram a frequência e a quantidade de doações às famílias atendidas. Em alguns casos, estão sendo distribuídos pacotes de arroz do tipo “alpha”, normalmente usados em situações de desastre.
Fonte: Asahi