A educação no Japão é conhecida por sua disciplina, organização e elevado nível de exigência. Porém, para estudantes estrangeiros, especialmente brasileiros, essa experiência pode ser marcada por desafios únicos, como relatou Hideki, um brasileiro que viveu no Japão por mais de uma década e agora está de volta ao Brasil para estudar medicina.
Uma infância bilíngue e multicultural
Hideki nasceu no Brasil, mas se mudou para o Japão com apenas três anos de idade. Ele cresceu na cidade de Hamamatsu, em Shizuoka, onde completou todo o ensino fundamental em escolas japonesas. Apesar de sua origem brasileira, Hideki foi, em grande parte, moldado pela cultura e educação japonesa. “Eu já falava japonês desde que me lembro, mas tive dificuldade com o português”, conta. Esse esforço em manter a língua materna era, muitas vezes, mais uma obrigação imposta pelos pais do que uma vontade própria. “Eu ia para a escola brasileira aos finais de semana, mas odiava”, admite, embora hoje reconheça a importância dessa base.
Desafios de adaptação
Apesar de sua fluência em japonês e de ter crescido imerso na cultura local, Hideki nunca se sentiu completamente integrado. Ele revela que conheceu outros brasileiros na escola, mas muitos só assumiram sua identidade brasileira na vida adulta. A barreira linguística e a necessidade de se adaptar ao ambiente eram constantes. “Na creche, as professoras não entendiam palavras básicas como ‘fome’ e ‘xixi’, e meus pais tiveram que intervir para garantir que eu fosse compreendido.”
Para outros brasileiros que chegavam ao Japão mais tarde, a adaptação era ainda mais difícil. Hideki lembra de colegas que ingressaram nas escolas japonesas já com 10 ou 11 anos e enfrentaram grandes dificuldades. “Esses estudantes geralmente não conseguiam se adaptar ao ritmo e acabavam deixando a escola depois de pouco tempo.” Segundo ele, essa dificuldade não era necessariamente devido à nacionalidade, mas sim à falta de um suporte linguístico adequado na época. “Hoje, parece que a situação melhorou, com a presença de tradutores e apoio linguístico nas escolas”, observa.
Diferenças entre o ensino japonês e brasileiro
A diferença mais marcante que Hideki percebeu entre as escolas japonesas e brasileiras foi a questão da padronização e da disciplina. No Japão, todos os estudantes vestiam uniformes, o que tornava difícil identificar diferenças de classe social. No Brasil, por outro lado, essa distinção era mais evidente, especialmente em escolas particulares, como a que ele frequentou no Mato Grosso. “Outra coisa que notei foi a diferença na relação com os professores. No Japão, o professor está sempre disponível para ajudar os alunos, mesmo fora do horário de aula. No Brasil, os professores pareciam mais distantes, quase como contratados temporários”, compara.
Essa relação mais próxima entre professores e alunos no Japão também reflete a cultura de respeito e hierarquia presente na sociedade japonesa. Hideki lembra que, no Japão, ele nunca hesitou em procurar um professor para tirar dúvidas, ao contrário do Brasil, onde a barreira linguística e o medo de ser zombado pelos colegas o faziam evitar essas interações.
A experiência de ser “estrangeiro”
Mesmo sendo criado como um japonês, Hideki nunca deixou de sentir sua condição de estrangeiro. Isso ficou evidente quando, ao expressar o desejo de se tornar piloto de caça na Força Aérea Japonesa, foi informado que, por ser estrangeiro, não poderia seguir essa carreira. “Foi um dos motivos que me levou a retornar ao Brasil”, conta. A questão da nacionalidade pesava, e ele percebeu que, apesar de estar completamente adaptado à cultura e aos costumes japoneses, ainda seria visto como um estrangeiro.
Hideki também menciona a preparação para desastres, comum nas famílias japonesas, como outro ponto de diferença. “Enquanto as famílias japonesas tinham kits de sobrevivência e sabiam exatamente o que fazer em caso de terremoto, meus pais, por serem brasileiros, não tinham essa preparação.”
Hoje, de volta ao Brasil e estudando medicina, Hideki carrega consigo uma mistura única de influências culturais, que moldaram não apenas sua educação, mas também sua identidade.
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