Nos últimos dias, a suspensão da rede social X, anteriormente conhecida como Twitter, e os protestos em várias cidades brasileiras, em especial, em São Paulo, dominaram as manchetes não apenas no Brasil, mas também na imprensa internacional. No Japão, diversos veículos de comunicação têm destacado a crescente polarização política no Brasil e os desdobramentos das manifestações que pedem o fim da suposta “censura” imposta pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O caso, que envolve diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, levanta questionamentos sobre os limites da liberdade de expressão e o combate à desinformação.
A emissora japonesa NHK, uma das principais do país, aponta que os brasileiros têm enfrentado um embate jurídico que coloca em xeque o papel das redes sociais na sociedade moderna. A decisão do ministro Alexandre de Moraes, que ordenou a suspensão do X em todo o território brasileiro, gerou uma reação imediata, com manifestações reunindo milhares de apoiadores de Bolsonaro em São Paulo, no último dia 7 de setembro, data da Independência do Brasil. O tema da liberdade de expressão ganhou destaque nas análises japonesas, sendo comparado com debates similares ocorridos no Japão sobre o controle de informações nas plataformas digitais.
O jornal Asahi Shimbun, em um artigo recente, apontou que o caso brasileiro evidencia um dilema global: até que ponto as autoridades podem intervir nas redes sociais sem ferir o direito à liberdade de expressão? O debate, que já ocorre em várias partes do mundo, como no próprio Japão, onde o controle da disseminação de fake news também é uma preocupação crescente, encontra no Brasil um cenário polarizado, em que o STF busca impedir o uso das redes para espalhar desinformação.
No Japão, onde há um rigoroso controle sobre o conteúdo que circula nas mídias, as reportagens destacam a complexidade da situação no Brasil. Por um lado, o combate à desinformação é visto como necessário para proteger a democracia, especialmente após os eventos de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram o Congresso e outros prédios governamentais em Brasília. Por outro lado, a suspensão de uma plataforma inteira, como o X, levanta questões sobre a proporcionalidade da medida e os impactos na comunicação da população.
Elon Musk e a controvérsia internacional
O envolvimento de Elon Musk, proprietário do X, também chamou a atenção da mídia japonesa. A cobertura destaca como Musk, conhecido por se declarar um defensor da liberdade de expressão, entrou diretamente no embate com o STF brasileiro, ao criticar publicamente a decisão de Moraes. Segundo o jornal Yomiuri Shimbun, o bilionário norte-americano tem utilizado sua plataforma para questionar a legalidade da medida e incentivar a resistência entre os usuários da rede, o que tem ressoado fortemente entre os apoiadores de Bolsonaro.
A medida judicial que resultou na suspensão do X foi amplamente discutida em programas de debate no Japão, que comparam a situação brasileira com as discussões internas sobre o controle da internet no país asiático. No Japão, embora haja regulamentações rígidas, a ideia de bloquear uma rede social inteira seria considerada uma medida extrema, segundo especialistas ouvidos pela mídia japonesa.
Fonte: Japan Times, NHK, Mainichi