O Japão está diante de um cenário político incerto após as eleições legislativas de domingo. O Partido Liberal Democrático (PLD), que lidera o governo há anos, perdeu a maioria na Câmara dos Deputados, o que representa uma significativa mudança no equilíbrio de poder do país. Com essa derrota, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba enfrenta o desafio de manter a estabilidade de um governo abalado por escândalos e pela insatisfação popular.
A derrota foi resultado de um cenário marcado pela crescente desconfiança pública em relação ao PLD, especialmente após um escândalo envolvendo uso indevido de fundos partidários. A eleição deixou claro que muitos eleitores decidiram punir o governo, que vinha enfrentando dificuldades para reconquistar a confiança desde que o caso veio à tona no final de 2023.
Crise de confiança e perda de apoio
A coalizão PLD-Komeito, que antes da eleição contava com 288 cadeiras, não conseguiu alcançar a maioria necessária de 233 cadeiras na Câmara dos Deputados, o que reflete um aumento no apoio à oposição. A principal força opositora, o Partido Constitucional Democrático do Japão (PCDJ), obteve um aumento expressivo no número de cadeiras, conquistando a confiança de eleitores que buscam transparência e reformas.
Durante a campanha, o PLD foi alvo de críticas intensas devido a revelações de que o partido teria destinado 20 milhões de ienes a filiais locais de candidatos não endossados oficialmente. Esses candidatos estavam ligados ao escândalo de fundos secretos, o que gerou uma onda de críticas tanto de opositores quanto de eleitores descontentes.
Oposição cresce, mas coalizões são desafiadoras
O PCDJ, que apresentou uma plataforma de reformas e combate à corrupção, conseguiu mais de 140 cadeiras, um aumento significativo comparado às eleições anteriores. No entanto, a diversidade de posicionamentos dentro da oposição pode dificultar a formação de alianças sólidas, já que as divergências políticas entre os partidos liberais e conservadores são notórias.
Enquanto isso, outros partidos opositores, como o Partido Democrático para o Povo, também conquistaram avanços, multiplicando o número de cadeiras e aumentando a pressão sobre o governo Ishiba. Contudo, tanto o PCDJ quanto outros partidos importantes da oposição descartaram, por ora, a possibilidade de formar uma coalizão com o PLD, complicando o cenário para a estabilização política no país.
Escândalos enfraquecem o governo
O escândalo financeiro envolvendo o PLD continuou a impactar a campanha nos dias finais, com novas acusações surgindo sobre o financiamento de candidatos afetados. As revelações não apenas minaram a confiança no partido, mas também expuseram divisões internas que podem comprometer ainda mais a governabilidade.
Keiichi Ishii, líder do parceiro de coalizão Komeito, foi um dos grandes derrotados, perdendo seu assento na Câmara dos Deputados. Sua derrota é vista como simbólica, uma vez que é a primeira vez desde 2009 que um líder do partido perde sua vaga. Além disso, figuras importantes do governo, como o Ministro da Justiça Hideki Makihara, também foram derrotados.
Futuro incerto para o Governo Ishiba
Com a perda de cadeiras e a incapacidade de alcançar uma maioria estável, o futuro do governo de Shigeru Ishiba está incerto. Ele agora enfrenta o desafio de tentar reconquistar a confiança dos eleitores e de buscar possíveis alianças com partidos independentes ou menores, uma tarefa complicada em um cenário de desconfiança generalizada.
Ishiba, que assumiu o cargo de primeiro-ministro há apenas um mês, dissolveu a Câmara dos Deputados em uma tentativa de renovar a base de apoio do governo, mas a estratégia se mostrou arriscada e acabou falhando. A queda na popularidade, associada ao escândalo, tornou ainda mais difícil sua missão de governar com estabilidade até a próxima eleição para a Câmara dos Conselheiros, prevista para o ano que vem.
A taxa de participação eleitoral foi de 53,81%, uma leve queda em relação à eleição anterior, mas que ainda representa um indicativo claro de que a população japonesa está atenta ao cenário político. A eleição também estabeleceu um recorde no número de mulheres eleitas para a Câmara dos Deputados, com 55 parlamentares do sexo feminino conquistando cadeiras.
Fonte: Kyodo News
Foto:Getty Images