26/11/2024 21:17

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Jogadoras brasileiras relatam assédios e falta de suporte em clube japonês de futebol feminino

Denúncias de abuso psicológico e assédio verbal no futebol feminino japonês ganharam destaque após duas jogadoras brasileiras do Diosa Izumo FC, time da segunda divisão da Nadeshiko League, exporem o ambiente hostil que enfrentam no clube. Thays Ferrer e Laura Spenazzatto, que atuam no time desde 2022, relatam ter suportado durante meses um clima de pressão, desrespeito e isolamento, intensificado pela falta de tradutor, que deveria ser garantido pelo contrato.

Em uma conversa exclusiva com o nosso portal Brasileiros no Japão, Thays Ferrer narrou uma série de episódios envolvendo o treinador, que fazia uso recorrente de palavrões em português para repreendê-las de forma ofensiva. “Isso começou há algum tempo. A gente já havia reclamado com o treinador a forma que ele se expressava verbalmente, porque ele falava muitos palavrões em português. A gente até questionou sobre como ele sabia esses palavrões. Ele explicou que já tinha jogado com alguns brasileiros e aprendeu, mas ele utilizava isso de uma forma bem negativa” contou Thays. O abuso verbal e o isolamento geraram nas atletas um desgaste psicológico que levou ambas a buscar apoio médico.

Processo de denúncia e tentativa de diálogo com o clube

A situação levou as jogadoras a buscarem diversas formas de diálogo dentro do clube. Desde o início do ano, Thays e Laura participaram de reuniões com o treinador e a direção, esperando que o Diosa Izumo FC tomasse providências, o que não foi feito. Com a saúde mental comprometida, as jogadoras tentaram resolver a situação diretamente com o clube, mas em agosto decidiram se afastar das atividades e passaram a ser representadas por um advogado. A falta de ações concretas para melhorar o ambiente e o cumprimento do contrato — que previa a presença de um tradutor em treinos e jogos — foram os fatores que agravaram a situação.

Impacto emocional e afastamento para tratamento

Após meses de desgaste emocional, ambas foram diagnosticadas com estresse agudo e começaram a receber tratamento psicológico. “Então, teve um impacto muito grande na minha vida, não só na minha carreira, mas na minha vida mesmo, como pessoa. Porque isso mexe muito com a parte psicológica e é uma coisa que eu não desejo para ninguém. Esse sentimento de angústia, de estresse, de ansiedade, tudo isso mexeu muito com a minha vida, no contexto geral”, conta Thays, que afirma estar em acompanhamento psicológico contínuo.

Ela destaca que, sem o apoio de amigos e familiares, teria sido muito difícil lidar com a situação. “Se eu não tivesse ajuda médica dos meus amigos, suporte familiar também, eu não teria conseguido lidar com tudo isso,” completou.

A falta de resposta do clube agravou ainda mais a situação das atletas, que decidiram procurar a Federação Japonesa de Futebol para formalizar uma denúncia.

Resposta do Diosa Izumo FC e investigação em andamento

Em resposta às denúncias, o Diosa Izumo FC negou as acusações de assédio, embora tenha admitido o descumprimento do contrato quanto à presença de um tradutor. O clube declarou que o técnico negou as ofensas verbais e que teria utilizado alguns termos em português apenas em contextos pessoais. Diante da gravidade das alegações, a Federação Japonesa de Futebol iniciou uma investigação para apurar os relatos de abuso e avaliar possíveis responsabilidades.

Inspirando outras jogadoras a buscarem seus direitos

Foto: Thays Ferrer- divulgação rede social

Thays, que aguarda as conclusões das investigações, espera que a exposição do caso traga mudanças no tratamento de jogadoras estrangeiras e incentive outras atletas a buscarem apoio. “Eu tomei essa decisão de exposição, do que aconteceu também, para encorajar outras jogadoras, incluindo as próprias jogadoras do meu time. Muitas delas não reconhecem os abusos ou acham que isso é normal,” disse Thays, ressaltando que a luta é por um ambiente de trabalho seguro e respeitoso.

Retorno ao Brasil e próximos passos

“No momento, agora, eu quero muito voltar para a minha casa, descansar um pouco a minha cabeça com a minha família, porque foi um ano muito difícil, e estar longe da minha família é muito ruim, nesse momento no qual eu preciso de apoio”, declarou. Ela espera que, depois de se fortalecer, encontre um clube que valorize seu trabalho e ofereça um ambiente seguro.

A investigação sobre as denúncias segue em andamento.

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