Um caso que abalou a comunidade brasileira no Japão continua a reverberar com novas revelações. O assassinato de Roseli Almeida Aihara, 46, ocorrido em maio de 2023, revelou uma trama que envolveu paixão virtual, um golpe financeiro e conflitos familiares que culminaram em latrocínio.
O principal acusado, Demerson Almeida Prates, 50, marido de Roseli, foi condenado à prisão perpétua. Segundo as investigações, ele planejou o crime com o apoio da filha Kimberly Kaori Almeida Aihara, 27, e do genro Lucas Haruyuki Hakozaki, 24, que também receberam sentenças severas.
O plano e a motivação
Demerson, segundo os autos do processo, estava envolvido em um relacionamento virtual com uma mulher identificada como “Marie”, residente nos Estados Unidos. Ele a conheceu pela internet e rapidamente desenvolveu um apego obsessivo. Para sustentar essa relação, transferiu mais de ¥1 milhão para a conta dela, acreditando que se tratava de um “investimento” para um futuro juntos.
A necessidade de “se livrar” de Roseli surgiu, conforme alegado pelo Ministério Público, quando Demerson percebeu que o divórcio seria um processo caro e demorado. Assim, o assassinato se tornou, na visão dele, a solução mais “prática”.
A participação da família
O crime contou com o apoio direto da filha do casal, Kimberly, que ajudou a monitorar os passos da mãe. Lucas, companheiro de Kimberly, também estava envolvido. Ele alegou ter tentado evitar o crime, mas não conseguiu persuadir Demerson a desistir do plano.
Mensagens trocadas entre os envolvidos mostraram a dinâmica do grupo, incluindo promessas de uma “vida melhor no Brasil”, que Demerson usava para convencer a filha e o genro. O suposto envio de ¥600 milhões por Marie era apresentado como uma garantia de um futuro confortável.
Histórico de conflitos familiares
O casamento de Demerson e Roseli durou 32 anos, mas foi marcado por conflitos frequentes. Apesar de terem construído uma vida estável no Japão, as tensões aumentaram ao longo do tempo. Relatos no julgamento indicam que Demerson frequentemente desdenhava de Roseli, enquanto ela demonstrava insatisfação com o comportamento dele.
Seis meses antes do crime, uma briga culminou na expulsão de Roseli de casa. Ela passou a viver sozinha, enquanto Demerson permaneceu com as filhas. A ruptura foi um dos fatores que agravaram os conflitos e abriram caminho para o plano fatal.
Golpe do amor: fraude e tragédia
Durante o julgamento, iniciado em setembro de 2024, surgiram detalhes sobre o relacionamento virtual entre Demerson e Marie. Especialistas em fraudes românticas apontaram que o caso é um exemplo típico de golpe emocional, em que a vítima é levada a transferir dinheiro sob falsas promessas.
Demerson, no entanto, se recusava a acreditar que havia sido enganado. “Marie é uma pessoa confiável”, disse ele, durante o julgamento. Mensagens lidas no tribunal revelaram sua determinação em formalizar o relacionamento: “Agora estou livre para você”, escreveu à suposta parceira poucos dias após o crime.
Condenações e reações no tribunal
Em 16 de dezembro de 2024, o Tribunal Distrital de Tsu proferiu as sentenças: prisão perpétua para Demerson, 15 anos para Kimberly e 20 anos para Lucas. Segundo o juiz, a ausência de remorso por parte de Demerson foi um dos fatores que pesaram na decisão.
Apesar das penas, os três recorreram da condenação. O caso agora será analisado pelo Tribunal Superior de Nagoia, em data ainda não definida.
Fonte: NHK, CTV e JNN