Em Wajima, na Península de Noto, província de Ishikawa, o Ano Novo chega carregado de apreensão. Um ano após o terremoto de magnitude 7,5 que devastou a região no dia 1º de janeiro de 2024, os sobreviventes ainda enfrentam dificuldades para reconstruir suas vidas.
Em conversa com o portal The Japan Times, Sueko Naka, de 83 anos, relembrou com tristeza os momentos vividos após o desastre. “Quando imagino que posso morrer aqui, não consigo dormir direito”, disse, referindo-se à pequena unidade temporária onde vive com o marido e a filha, após perderem a casa na tragédia.
O terremoto, o mais mortal no Japão em mais de uma década, deixou cerca de 470 mortos. Metade das vítimas perdeu a vida imediatamente devido ao impacto do tremor, que provocou tsunamis e um incêndio devastador no centro de Wajima, destruindo um mercado histórico. Outras mortes ocorreram posteriormente, devido ao frio extremo, centenas de réplicas e as condições precárias nos abrigos improvisados em ginásios e centros comunitários, que receberam mais de 40 mil pessoas.
Reconstrução lenta e novos desastres
Atualmente, mais de 200 pessoas continuam em abrigos emergenciais compartilhados, enquanto milhares, como a família Naka, vivem em unidades habitacionais temporárias. A reconstrução avança lentamente, sendo que apenas um quarto dos prédios danificados em Wajima foi demolido. Estradas destruídas e deslizamentos dificultam o acesso de máquinas pesadas às áreas mais remotas.
A situação se agravou em setembro, quando chuvas torrenciais provocaram enchentes e deslizamentos, deixando mais 16 mortos e obrigando os moradores a reiniciar o processo de recuperação.
“Após o terremoto, recebemos apoio externo e todos pareciam dispostos a recomeçar,” disse Yasuaki Ipponmatsu, funcionário da prefeitura de Wajima. “Mas a chuva levou tudo, e tivemos que começar do zero.”
Abandonando a Península
A tragédia acelerou a crise de despovoamento em Noto, já agravada pelo envelhecimento da população. Wajima perdeu 2.500 moradores no último ano, reduzindo sua população para cerca de 21 mil pessoas — um declínio significativo em relação aos 30 mil habitantes registrados há uma década.
Chugo Maruyama, administrador de um abrigo na cidade vizinha de Suzu, teme pelo futuro. “Será que as pessoas decidirão reconstruir suas casas e voltar? Acho difícil. Nossa cidade pode estar caminhando para a extinção.”
Os esforços para manter os jovens na região enfrentam grandes obstáculos, com arrozais arruinados, portos danificados e canais de irrigação inutilizáveis.
Memórias Dolorosas e Incertezas
Sueko Naka e seu marido já haviam perdido sua casa em outro terremoto, em 2007. A construção que os abrigava atualmente foi destruída no início deste ano, quando uma casa vizinha desabou sobre a deles. “Quando lembro do que aconteceu, só consigo chorar”, disse Sueko.
Sua filha, Miyuki Kijima, voltou a Wajima para cuidar dos pais, mas vive apreensiva. “Queremos reconstruir nossa casa e morar juntos novamente, mas e se isso acontecer de novo?”
Para Kijima, o Ano Novo não traz mais esperança. “Agora, o Ano Novo é só medo. Tudo o que quero é que nós sete possamos viver juntos.”
Fonte: Japan Times