A Assembleia Metropolitana de Tóquio aprovou, no dia , a primeira lei no Japão destinada a proteger trabalhadores de abusos e exigências desrespeitosas de clientes, um comportamento conhecido como “kasu-hara” (assédio de clientes). A lei entra em vigor em abril do próximo ano e visa enfrentar um problema crescente em setores que envolvem atendimento direto ao público, como lojas, supermercados e repartições públicas.
O “kasu-hara” inclui desde insultos verbais até agressões físicas. Um caso citado envolve um funcionário de um supermercado em Tóquio que foi obrigado a se desculpar repetidamente por um produto vencido, mesmo que a culpa não fosse dele. Outro exemplo relatado foi de um funcionário agredido por um cliente embriagado, que quebrou seus óculos durante o incidente. Funcionários públicos também sofrem com esse tipo de assédio. Uma atendente de um escritório de assistência ao idoso em Tóquio foi insultada por uma pessoa que não conseguiu a certificação de cuidados, recebendo gritos como “Você quer que eu morra?”.
De acordo com uma pesquisa realizada pela associação sindical UA Zensen, 46,8% dos trabalhadores do setor de serviços no Japão sofreram assédio de clientes nos últimos dois anos. A pesquisa, que contou com a participação de cerca de 33 mil pessoas, revelou casos em que trabalhadores foram forçados a pedir desculpas ao ar livre no inverno ou a suportar clientes jogando objetos, como cartões de crédito, enquanto gritavam insultos.
A nova lei de Tóquio define o assédio de clientes como “comportamento severo e perturbador por parte de clientes ou outros, relacionado às funções dos trabalhadores, que prejudique o ambiente de trabalho”. Ela exige que toda a sociedade adote medidas para evitar esse tipo de comportamento. A legislação abrange tanto empresas privadas quanto instituições públicas, estabelecendo responsabilidades para trabalhadores, empresas, clientes e o governo metropolitano na prevenção do assédio.
Além de Tóquio, outras regiões como Hokkaido, Saitama e Mie, estão considerando implementar leis semelhantes. Fukuoka, por exemplo, já criou um manual para lidar com o assédio de clientes em repartições públicas, e outras prefeituras estão tomando medidas, como o uso apenas do primeiro nome nos crachás dos funcionários, para aumentar a segurança dos trabalhadores.
Especialistas alertam, no entanto, que a aplicação da lei precisa ser cuidadosa. Um grupo de advogados que assessora a Assembleia Metropolitana de Tóquio ressaltou que, embora o assédio de clientes deva ser combatido, é necessário garantir que críticas legítimas e demandas políticas não sejam confundidas com assédio. O governo de Tóquio está ciente dessas preocupações e planeja criar manuais específicos com exemplos de comportamentos proibidos para guiar as empresas e os trabalhadores.
Apesar de não incluir penalidades diretas, a nova lei busca conscientizar o público sobre o problema e promover ações de toda a sociedade para proteger os trabalhadores do setor de serviços. “Este pode ser o primeiro passo para proteger a indústria de serviços em nível nacional”, afirmou Hiromi Ikeuchi, professora de psicologia social na Universidade Kansai.
Fonte: Asahi