O número de acidentes de trabalho envolvendo trabalhadores estrangeiros no Japão atingiu um recorde em 2023, com 5.672 casos registrados, incluindo 32 mortes, segundo dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar. O aumento acompanha o crescimento da mão de obra estrangeira no país, que chegou a 2,04 milhões de pessoas no ano passado.
Entre os principais fatores apontados para o aumento estão barreiras linguísticas e falta de treinamento adequado para os trabalhadores, além da insuficiência de medidas de segurança por parte das empresas.
Um caso que exemplifica o problema
Um exemplo dos desafios enfrentados pelos estrangeiros no ambiente de trabalho é o caso de uma vietnamita de 28 anos, que sofreu um grave acidente em uma fábrica de algas na província de Saitama, em dezembro de 2022. Durante o manuseio de uma máquina de corte, a mulher teve a mão direita amputada ao se acidentar com uma lâmina rotativa. Ela afirmou que não recebeu treinamento adequado e aprendeu o serviço apenas observando outros funcionários.
Após o acidente, a trabalhadora ficou hospitalizada por quatro meses e foi obrigada a deixar o emprego. Apesar de receber compensação por acidente de trabalho, o valor representava apenas 80% de seu salário, dificultando ainda mais sua situação financeira, já que ela também precisava enviar dinheiro para sua família no Vietnã.
Setores mais afetados
A maior parte dos acidentes envolvendo estrangeiros ocorre nos setores de manufatura e construção, que juntos somam mais de 60% dos casos registrados. Programas de estágio técnico e de trabalhadores com habilidades específicas, que deveriam transferir conhecimentos para países em desenvolvimento, são frequentemente associados a trabalhos pesados e de alto risco.
Estatísticas mostram que a taxa de acidentes entre estagiários técnicos é significativamente maior do que a média nacional, com 4,1 incidentes por 1.000 trabalhadores, enquanto a média geral é de 2,36.
Problemas estruturais e falta de segurança
Especialistas apontam que muitas empresas de pequeno e médio porte enxergam os trabalhadores estrangeiros como mão de obra barata e não investem o suficiente em segurança. Além disso, erros básicos, como falhas no uso de equipamentos de proteção ou no seguimento de procedimentos, são comuns entre os estrangeiros, que frequentemente enfrentam dificuldades com o idioma japonês.
Casos de trabalhadores sendo enviados a locais de risco sem treinamento adequado ou obrigados a trabalhar em altura sem equipamentos de segurança foram relatados por organizações como a NPO Posse, que oferece suporte a trabalhadores estrangeiros.
Medidas em andamento
Para combater o problema, o governo japonês desenvolveu materiais educativos em 14 idiomas, incluindo mangás e pictogramas, para explicar os riscos no ambiente de trabalho. Também está sendo criado um novo programa de treinamento e emprego, que permitirá aos trabalhadores estrangeiros mudar de emprego dentro do mesmo setor e deverá substituir o atual sistema de estágio técnico, amplamente criticado.
O governo planeja ainda aumentar o número de trabalhadores estrangeiros com habilidades específicas para 820.000 nos próximos cinco anos e espera que as mudanças ajudem o Japão a se tornar um destino mais atrativo para estrangeiros.
Especialistas pedem mais apoio
Hiroki Ishiguro, advogado especializado em questões trabalhistas, defende que, além de melhorias na educação de segurança, o governo deve fortalecer o suporte aos trabalhadores, como oferecer serviços de intérpretes para empresas durante treinamentos.
“Sem mudanças estruturais, os acidentes de trabalho continuarão a crescer, dificultando que o Japão se torne um país de escolha para trabalhadores estrangeiros”, afirmou Ishiguro.
Fonte: Japan Times
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