O aumento dos ataques de ursos no Japão tem colocado em evidência um problema que vai além da segurança: o envelhecimento da população rural e a escassez de novos caçadores. Em Hokkaido, uma das regiões mais afetadas, comunidades dependem de caçadores idosos para lidar com a crescente presença de ursos em áreas habitadas, mas a falta de renovação dessa força de trabalho está gerando preocupações.
Crescimento da população de ursos e ataques
Entre abril de 2023 e março de 2024, o Japão registrou um recorde de 219 pessoas atacadas por ursos, seis delas de forma fatal. Dados do Ministério do Meio Ambiente mostram que mais de 9.000 ursos foram capturados e abatidos no mesmo período. A expansão do habitat dos ursos, combinada com mudanças climáticas e o abandono de terras agrícolas, está aproximando esses animais de áreas urbanas e vilas.
Em Hokkaido, o número de ursos marrons mais que dobrou em três décadas, passando de cerca de 5.000 em 1990 para mais de 11.700 em 2020, segundo estimativas do governo. Na ilha principal, Honshu, a população de ursos negros triplicou desde 2012, alcançando cerca de 44.000 em 2023, de acordo com o jornal Yomiuri Shimbun.
Dependência de caçadores envelhecidos
A maioria das comunidades afetadas depende de associações de caçadores locais, mas o envelhecimento dessa força de trabalho é um desafio crescente. Em Sunagawa, cidade no norte de Hokkaido, Haruo Ikegami, de 75 anos, lidera a associação de caçadores e explica que a tarefa não é apenas perigosa, mas emocionalmente desgastante.
“Caçar um urso nunca é algo que se faz com leveza. É uma grande responsabilidade e, muitas vezes, um fardo emocional”, afirmou Ikegami.
Além do risco, os caçadores enfrentam desafios financeiros. A recompensa por abater um urso é de cerca de 8.000 ienes, insuficiente para cobrir os custos com transporte e equipamentos.
Problemas estruturais e soluções propostas
A complexidade do problema vai além da falta de caçadores. As autoridades locais relatam dificuldades para lidar com a burocracia envolvida na captura e abate de ursos. Em 2019, Ikegami teve suas armas confiscadas por autoridades locais após um abate considerado mal planejado.
Com a população rural envelhecendo e diminuindo, especialistas sugerem mudanças no manejo da fauna. Programas para atrair jovens caçadores, incentivos financeiros e o uso de tecnologias, como o robô “Lobo Monstro”, são algumas das alternativas discutidas.
O Ministério do Meio Ambiente do Japão está ampliando esforços para treinar oficiais locais e realizar simulações de manejo de fauna em cidades menores. A longo prazo, especialistas defendem a criação de zonas de amortecimento para separar áreas habitadas dos habitats dos ursos e o desenvolvimento de um plano nacional de gestão e proteção desses animais.
Fonte: Kyodo News