O aquecimento global está avançando em uma velocidade nunca antes vista, conforme alertam mais de 50 cientistas renomados em um estudo divulgado recentemente. Publicado na revista Earth System Science Data, o estudo aponta que as temperaturas globais subiram 0,26 graus Celsius entre 2014 e 2023.
Nos últimos dez anos, as temperaturas médias da superfície global chegaram a 1,19ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). Este aumento é superior aos 1,14ºC registrados até 2022, indicando um avanço significativo no aquecimento causado pelo homem.
Contexto internacional
A divulgação do estudo ocorre em meio a negociações climáticas na Alemanha, que preparam o terreno para a cúpula da ONU COP29, prevista para novembro em Baku, Azerbaijão. O Acordo de Paris de 2015 compromete os países a limitarem o aquecimento global a “bem abaixo” de 2°C, com um esforço para manter o aumento em 1,5°C.
No final de 2023, atividades humanas elevaram as temperaturas a 1,31ºC acima dos níveis pré-industriais. Fatores naturais como o fenômeno El Niño contribuíram para um aquecimento total de 1,43°C. A redução de certos poluentes, que anteriormente refletiam a energia solar de volta ao espaço, também influenciou esse aumento.
Glen Peters, do Centro CICERO para Pesquisa Climática Internacional, explicou que a diminuição da poluição do ar na Europa, nos EUA e recentemente na China, foi significativa. A queda nas emissões de dióxido de enxofre devido a regulamentações no transporte marítimo e à redução do uso de carvão também desempenharam um papel importante.
As emissões de gases de efeito estufa continuam sendo o principal motor do aquecimento global, atingindo níveis recordes. Entre 2013 e 2022, as emissões anuais médias foram de 53 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e gases equivalentes, principalmente de combustíveis fósseis. Em 2022, essas emissões chegaram a 55 bilhões de toneladas.
O estudo alerta que o orçamento de carbono global, que é a quantidade de gases de efeito estufa que ainda pode ser emitida antes de ultrapassarmos o limite de 1,5ºC, está se esgotando rapidamente. Em 2020, o IPCC estimou este orçamento em cerca de 500 bilhões de toneladas de CO2. No início de 2024, esse valor caiu para aproximadamente 200 bilhões de toneladas.
Piers Forster, principal autor do estudo, vê um “pouco de otimismo” no fato de que o crescimento das emissões parece ter desacelerado na última década. No entanto, Pierre Friedlingstein, co-autor do estudo, adverte que essa desaceleração não é suficiente. “Não precisamos que as emissões sejam estáveis. Precisamos que cheguem a zero”, disse ele. Sem mudanças drásticas, o limite de 1,5ºC será ultrapassado e se tornará uma “média de longo prazo” na próxima década.
Fonte: Japan Today
