Ofertas de emprego com pagamento alto, início imediato e zero exigência de experiência têm se espalhado pelas redes sociais no Japão. Chamadas de yami baito, que significa “bico das sombras” ou “trabalho obscuro”, essas vagas muitas vezes escondem envolvimento direto com crimes como fraude, golpes contra idosos, lavagem de dinheiro e até ligações com o crime organizado. Apesar do apelo de ganhar bem em pouco tempo, principalmente para quem está enfrentando dificuldades financeiras, os riscos são sérios — e crescentes.
Esse tipo de oferta costuma atrair estudantes universitários, jovens em busca de renda extra e estrangeiros que desconhecem o funcionamento do mercado de trabalho no Japão. Muitos não sabem que estão se envolvendo em atividades ilegais até já estarem comprometidos com tarefas que parecem simples, como fazer entregas ou administrar perfis em redes sociais. As promessas vêm por meio de mensagens anônimas, principalmente via LINE e Instagram, onde o contato inicial costuma ser vago, mas atrativo: pagamento no mesmo dia, valores acima da média e nenhuma exigência de qualificação.
Popularização do Yami baito
Com o custo de vida em alta e os salários de meio período em queda, o yami baito tem se tornado ainda mais comum. O problema é que, mesmo quem realiza pequenas tarefas pode ser responsabilizado criminalmente. A polícia japonesa alerta que não importa se o envolvido sabia ou não que a atividade era ilegal — diante da lei, essa justificativa não é aceita. Isso significa que estrangeiros que participam dessas atividades, mesmo sem saber do que se trata, podem ser presos, deportados ou até processados civilmente por danos causados às vítimas dos golpes.
Casos recentes chamaram a atenção das autoridades. Em 2024, um adolescente de 16 anos foi levado por golpistas para fora do Japão, onde foi forçado a participar de fraudes telefônicas se passando por policial japonês. Outro caso envolveu um estudante chinês sequestrado em Tóquio após se envolver com um desses bicos. Também houve registro de jovens recrutados nas redes para assaltar uma loja de relógios de luxo em Ginza, após serem convencidos por falsas promessas de dinheiro fácil.
Consequências
As consequências são graves e vão muito além da questão legal. Quem tenta sair pode ser ameaçado, chantageado ou coagido a continuar. Recrutadores usam estratégias para manter o controle dos envolvidos, seja por meio de promessas de pagamentos maiores, seja por medo. O resultado é um ciclo perigoso e difícil de quebrar.
Como identificar o golpe
Diante disso, especialistas alertam para sinais claros de golpe. Vagas com pagamentos muito acima da média, que dispensam entrevistas ou contratos e que pedem dados pessoais logo no início são motivo de alerta. Empregadores sérios no Japão seguem um processo formal, que inclui entrevista, verificação de documentos e informações claras sobre salário, carga horária e funções. Ignorar essas etapas é o primeiro passo para cair em uma armadilha.
Para quem já foi abordado ou está envolvido em um yami baito, há formas de buscar ajuda. Universidades oferecem orientação e suporte. Em caso de risco, é possível entrar em contato com o consulado, a polícia ou órgãos como o Hello Work e o Tokyo Employment Service Center for Foreigners, que oferecem apoio e informações em vários idiomas. É importante lembrar que, mesmo diante de dificuldades financeiras, nenhum trabalho vale a pena se colocar em risco a liberdade ou o direito de permanecer no país.