23/11/2024 11:22

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Crise de mão de obra leva empresas tradicionais do Japão a contratarem mais trabalhadores estrangeiros

Com o envelhecimento acelerado da população e a falta de trabalhadores locais, muitas empresas tradicionais no interior do Japão estão enfrentando uma realidade que seus fundadores nunca imaginaram: a necessidade urgente de contratar mão de obra estrangeira para manter as operações.

Esse é o caso da Hizatsuki Confectionery, uma empresa centenária na cidade de Tochigi, ao norte de Tóquio. Fundada em 1923, a companhia é famosa pela produção de biscoitos de arroz, uma tradição mantida por três gerações da família Hizatsuki. No entanto, como muitas outras empresas japonesas, a Hizatsuki Confectionery encontrou um obstáculo que ameaça sua continuidade: a escassez de trabalhadores japoneses.

Trabalhadores estrangeiros representam cerca de duas dúzias dos 210 funcionários da Hizatsuki Confectionery. FOTO: NYTIMES

Diante desse desafio, em 2020, a empresa decidiu contratar trabalhadores do Vietnã e da Indonésia para preencher as vagas em sua linha de produção. Segundo Takeo Hizatsuki, atual presidente da companhia, a decisão foi difícil no início, principalmente pela resistência dos funcionários japoneses, que nunca haviam trabalhado com estrangeiros. “Expliquei a eles que, para manter a empresa viva e continuar alimentando o povo japonês, era preciso aceitar a ajuda de trabalhadores de fora”, conta Hizatsuki.

Atualmente, cerca de 10% dos 210 funcionários da Hizatsuki são estrangeiros, e a previsão é de que esse número cresça nos próximos anos. O presidente já se prepara para passar a gestão para seu filho e acredita que, em breve, quase metade dos funcionários da empresa serão de outros países.

Acolhimento e integração

Enquanto grandes cidades como Tóquio e Osaka começaram a receber trabalhadores estrangeiros há mais de uma década, no interior do país, esse movimento é recente. Comunidades menores e mais tradicionais tendem a ser mais conservadoras, e a integração de estrangeiros nem sempre é fácil. A barreira do idioma e as diferenças culturais são grandes obstáculos para que esses trabalhadores se sintam parte do cotidiano local.

O Sr. Takeo Hizatsuki (à direita), presidente da Hizatsuki Confectionery, e seu filho, o Sr. Yuta Hizatsuki, gerente de vendas, na loja da fábrica da Hizatsuki Confectionery na cidade de Tochigi, Japão, em 26 de setembro de 2024. FOTO: NYTIMES

A Hizatsuki Confectionery, assim como outras empresas regionais, precisou criar suas próprias estratégias para garantir que os novos funcionários se sintam acolhidos. A empresa oferece suporte com moradia, ajuda na adaptação à vida no Japão e tenta, aos poucos, criar um ambiente de trabalho mais inclusivo.

Entretanto, a ausência de um sistema nacional eficaz para apoiar trabalhadores estrangeiros no Japão torna o processo desafiador. Empresas e governos locais estão assumindo a responsabilidade de criar suas próprias soluções, muitas vezes de maneira improvisada. Para Yuki Hashimoto, pesquisador de uma instituição de estudos econômicos em Tóquio, sem o apoio desses trabalhadores, muitas empresas regionais correm o risco de fechar as portas. “Trabalhadores estrangeiros são essenciais para a continuidade dessas empresas”, afirma.

Um futuro incerto para empresas familiares

Sr. Shinichiro Nakamura, presidente da Daiwa Steel Tube Industries, em Sakura City, Japão, em 24 de julho de 2024. FOTO: NYTIMES

A questão da mão de obra estrangeira não é uma preocupação apenas para as indústrias alimentícias. A Daiwa Steel Tube Industries, uma fabricante de tubos de aço com mais de 90 anos de história, também enfrenta o mesmo desafio. Localizada em Tochigi, a Daiwa contratou trabalhadores do Vietnã e incentiva que eles tragam suas famílias para o Japão, na tentativa de retê-los por mais tempo.

Shinichiro Nakamura, presidente da Daiwa, implementou várias políticas para facilitar a vida dos estrangeiros na empresa, desde o auxílio na busca por moradia até a movimentação dos trabalhadores entre diferentes departamentos, para que adquiram novas habilidades. No entanto, Nakamura admite que, mesmo com todo o apoio, muitos estrangeiros preferem não passar muito tempo no Japão. “A maioria diz que quer ficar aqui por três a cinco anos. É difícil estar longe de casa”, comenta o empresário.

Essa dificuldade em reter trabalhadores estrangeiros por longos períodos representa uma ameaça às empresas familiares, que dependem cada vez mais desse tipo de mão de obra para sobreviver. Sem alternativas de longo prazo, o futuro dessas empresas é incerto.

Um país em transformação

Recentemente, o Japão aprovou leis que facilitam a permanência de trabalhadores estrangeiros por períodos mais longos, o que representa uma grande mudança para um país que, historicamente, sempre teve políticas migratórias restritivas.

O novo primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, que assumiu o cargo em outubro, defende uma abordagem mais aberta à contratação de estrangeiros como solução para a crise de mão de obra.

Fonte: The Straits Times

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