O cheiro de café recém-passado carrega mais do que um aroma reconfortante nas áreas afetadas pelo terremoto na Península de Noto. Desde o início de 2024, Shinsuke Iwahana, de 47 anos, tem cruzado 800 km de estradas entre Kamaishi, na província de Iwate, e as regiões atingidas, levando uma dose de calor e humanidade para moradores em abrigos e moradias temporárias.
Ao longo do último ano, cerca de 10.000 xícaras de café já foram servidas gratuitamente, um gesto que aquece tanto o corpo quanto o coração de quem enfrenta dias difíceis após o desastre.
Retribuindo o apoio que um dia recebeu
A história de Iwahana com solidariedade começou em 2011, quando sua própria vida foi impactada pelo Grande Terremoto e Tsunami do Leste do Japão. Na época, ele perdeu a casa da família e viu a destruição em Kamaishi. Apesar disso, foi acolhido por voluntários que não apenas ajudaram na reconstrução, mas trouxeram palavras de apoio e esperança.
“Recebemos tanto apoio naquela época que senti que precisava retribuir. Quero que as pessoas sintam que não estão sozinhas”, explicou ele.
Em 2012, Iwahana iniciou o projeto Happiece Coffee, um food truck que combina sua paixão pelo café e sua vontade de ajudar o próximo. O nome da empresa une as palavras “felicidade” e “pedaço”, traduzindo sua missão de oferecer um pouco de alegria para cada pessoa.
Uma viagem de 15 horas por um gesto de carinho
Desde o terremoto de Noto, ocorrido em 1º de janeiro de 2024, Iwahana já fez 10 viagens para a região. Cada ida e volta soma mais de 1.600 km, percorridos em um food truck onde ele mesmo torra e prepara os grãos, escolhendo sempre o comércio justo e optando por uma torra leve para evitar amargor.
“Não quero que as pessoas que já sofreram tanto tenham qualquer experiência amarga”, explicou ele.
No dia 1º de dezembro de 2024, moradores de Nanao receberam o “café de Shin-chan”, como ele é carinhosamente chamado, com sorrisos e palavras de gratidão. “Ele vem desde os dias no centro de evacuação. Parece que nos diz: ‘Estou aqui por vocês’”, contou Takemi Kaga, 74 anos.
Sachiko Urakami, da mesma idade, revelou que essas visitas significam mais do que um simples café: “É um gesto que faz a gente se sentir visto. Traz uma calma que só quem já passou por isso entende”.
O poder de uma xícara para mudar o dia
Para muitos moradores em moradias temporárias, como Kimihiko Tanaka, 63 anos, o café de Iwahana se tornou uma pausa essencial em meio à rotina desgastante. “Morar em um espaço pequeno e provisório é sufocante, mas este momento de café traz um alívio. Parece que respiro melhor”, contou.
Solidariedade em movimento
A relação de Iwahana com as regiões afetadas por desastres não se limita à Península de Noto. Desde os deslizamentos de terra em Hiroshima, em 2014, ele já levou apoio para Kumamoto, Akita e outras áreas atingidas por desastres naturais.
A cada nova visita, ele reforça a importância de estar presente. “O que mais me tocou, anos atrás, foi ver pessoas que voltavam para ajudar, mesmo meses depois do terremoto. Quero ser essa pessoa para quem precisa agora”, afirmou ele.
Em Nanao, a líder comunitária Tomoko Ishisaka destacou o impacto das ações de Iwahana. “Ele não só oferece café, mas um momento para as pessoas desabafarem e sentirem que há alguém por elas. É uma conexão humana que muitos aqui valorizam profundamente.”
Mesmo com os desafios de viagens longas e o trabalho solitário, Shinsuke Iwahana não pensa em parar tão cedo. “Ainda há muito a ser feito. Enquanto puder, quero continuar levando um pouco de conforto para quem precisa”, concluiu ele, enquanto preparava mais uma xícara de café, provando que pequenos gestos podem deixar marcas profundas na vida das pessoas.
Fonte: Japan Times