O novo primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, anunciou que as eleições gerais serão realizadas em 27 de outubro, antecipando o pleito em cerca de um ano. A decisão veio após sua vitória na liderança do Partido Liberal Democrata (PLD), e ele pretende usar o momento de popularidade para fortalecer a base de seu governo. O objetivo de Ishiba é garantir um mandato popular e aproveitar o impulso que sua administração recém-formada ganhou após as eleições internas do partido.
A decisão de antecipar as eleições foi fortemente influenciada por conselheiros do PLD, incluindo Hiroshi Moriyama, o novo secretário-geral do partido. Segundo Moriyama, dissolver a câmara baixa do parlamento japonês o mais rápido possível permitirá ao PLD capitalizar o entusiasmo gerado pela liderança de Ishiba. Isso também evitaria que o governo enfrente uma queda natural de popularidade devido a possíveis escândalos ou crises ao longo do tempo, o que poderia prejudicar suas chances de manter a maioria nas eleições.
Ishiba, que já havia demonstrado cautela sobre a dissolução da câmara baixa durante a campanha para a liderança do PLD, mudou sua postura, afirmando que é necessário “buscar o julgamento público o quanto antes”. No entanto, essa mudança de posição gerou críticas da oposição, principalmente do líder do Partido Democrático Constitucional do Japão (CDPJ), Yoshihiko Noda, que apontou a incoerência de Ishiba em relação ao que havia prometido anteriormente.
Durante uma entrevista em uma rede de televisão japonesa, Ishiba explicou que seu governo ainda não foi escolhido pelo público e que a dissolução antecipada do parlamento está alinhada com o espírito do Artigo 69 da Constituição Japonesa. Esse artigo estabelece que o gabinete deve renunciar em bloco ou dissolver a câmara baixa em caso de uma moção de desconfiança. Embora o Artigo 7 da Constituição também permita que o parlamento seja dissolvido com o conselho do primeiro-ministro e aprovação do Imperador, Ishiba tem sido um crítico desse tipo de dissolução, defendendo que ela não deve ser usada para prolongar a vida do governo ou atender aos interesses partidários.
A oposição, além de criticar a mudança de postura de Ishiba, também expressou preocupação com o tempo limitado de debate sobre questões importantes, como a recuperação das áreas atingidas por desastres naturais no centro do Japão. O líder do CDPJ, Noda, chegou a afirmar que a decisão de Ishiba de antecipar as eleições foi “desrespeitosa” com o parlamento.
O partido Komeito, aliado do PLD, também apoia a antecipação das eleições, pois acredita que uma vitória consolidada agora pode beneficiar o partido nas eleições da câmara alta, previstas para o próximo ano.
Apesar das críticas, a estratégia de Ishiba tem precedentes no cenário político japonês. Outros primeiros-ministros, como Taro Aso, que assumiu o cargo em 2008, perderam a oportunidade de dissolver o parlamento no auge da popularidade e, como consequência, sofreram derrotas eleitorais esmagadoras. A memória desse fracasso pesa na decisão de muitos membros do PLD, que desejam evitar um cenário semelhante.
O PLD atualmente possui a maioria na câmara baixa, com 258 dos 465 assentos, e, apesar da recente queda de popularidade devido a escândalos de financiamento, ainda é o partido mais forte no cenário político fragmentado do Japão. O principal desafio para o partido será manter ou aumentar essa maioria. Uma vitória contundente também pode garantir o controle das comissões parlamentares, facilitando a aprovação de projetos de lei e fortalecendo o governo de Ishiba.
Nos próximos dias, Ishiba planeja fazer seu primeiro discurso como primeiro-ministro no parlamento e responder às perguntas dos líderes da oposição antes de dissolver a câmara baixa em 9 de outubro. A campanha eleitoral oficial deve começar em 15 de outubro, com as eleições marcadas para o dia 27 do mesmo mês.
Fonte: Kyodo News