O Japão enfrenta uma alta nos casos de sífilis, uma doença sexualmente transmissível que tem afetado principalmente a população jovem. Com mais de 10 mil novos casos registrados até meados de setembro de 2024, as autoridades estão intensificando os alertas para a importância de testes precoces e medidas de prevenção. O crescimento acelerado segue o ritmo do ano passado, que atingiu um recorde histórico de infecções.
A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum, transmitida através de contato sexual. Os sintomas iniciais incluem pequenas feridas nos órgãos genitais e boca, além de erupções na pele que podem se espalhar por todo o corpo, incluindo mãos e pés. Se não for tratada, a infecção pode causar sérios danos ao coração, cérebro e outros órgãos.
Crescimento dos casos
O número de casos de sífilis no Japão vem subindo desde 2013, quando as infecções ultrapassaram 1.000 pela primeira vez em anos. Em 2023, o país registrou 14.906 casos – um recorde. Em 2024, as infecções seguem aumentando, com 10.162 novos registros até setembro. Esses números preocupam especialistas, já que, no final da década de 1990, o número de casos era significativamente menor, com cerca de 500 infecções anuais.
Entre os infectados, cerca de 65% são homens, com uma ampla faixa etária que vai dos 20 aos 50 anos. No caso das mulheres, quase 60% das infectadas estão na faixa dos 20 anos, o que inclui mulheres grávidas, causando uma preocupação crescente com a sífilis congênita, que pode ser transmitida da mãe para o bebê durante a gestação.
Por que os casos estão aumentando?
Diversos fatores contribuem para o aumento dos casos de sífilis no Japão. O primeiro é a maior frequência de encontros sexuais casuais facilitados por aplicativos e plataformas de namoro online. Além disso, a pandemia de COVID-19 teve um papel importante no aumento das infecções. Durante a pandemia, os centros de saúde pública estavam sobrecarregados com o tratamento de pacientes com COVID-19, o que reduziu a capacidade de realizar testes para sífilis. Como resultado, muitos casos deixaram de ser detectados em estágios iniciais, o que permitiu que a infecção se espalhasse mais rapidamente.
Impacto da sífilis congênita
Outro ponto crítico é o aumento dos casos de sífilis congênita, quando a infecção é transmitida de mãe para filho durante a gravidez. Em 2023, o Japão registrou 37 casos de sífilis congênita, um número recorde, com 9 deles em Tóquio. Em 2024, já foram reportados 14 novos casos até junho. A doença pode trazer sérias complicações para o bebê, como problemas de audição, inflamação ocular e anomalias ósseas, com sintomas que podem aparecer meses ou até anos após o nascimento.
Em resposta ao aumento dos casos, as autoridades japonesas estão tomando medidas para facilitar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento da sífilis. A partir do início de 2024, Tóquio vai ampliar o horário de funcionamento de um centro de testes e consultas na área de Kabukicho, em Shinjuku, conhecida por sua vida noturna. Todas as quartas-feiras serão dedicadas a consultas e testes para mulheres. O atendimento será anônimo e gratuito, com suporte em inglês, chinês e coreano.
A importância do diagnóstico precoce e do tratamento
De acordo com o professor Katsumi Shigemura, do Hospital da Universidade Teikyo, muitas pessoas não buscam atendimento médico de imediato porque os sintomas da sífilis podem desaparecer temporariamente nas fases iniciais da infecção, levando os pacientes a acreditar que estão curados. Shigemura reforça que é fundamental iniciar o tratamento o quanto antes, uma vez que a doença pode evoluir para estágios graves se não tratada. “Os pacientes devem continuar tomando os antibióticos prescritos por um mês e confirmar com o médico que a infecção foi completamente erradicada”, alertou.
Fonte: Nikkei