A morte do Papa Francisco foi confirmada pelo Vaticano nesta segunda-feira, 21 de abril, às 7h35 no horário local. O pontífice tinha 88 anos e enfrentava problemas de saúde há anos, incluindo internações frequentes e um quadro recente de bronquite que exigiu hospitalização por mais de um mês. Ele faleceu após sofrer um AVC e insuficiência cardíaca.
Com a morte do papa, a Igreja Católica entra no período chamado de Sé Vacante, que marca a ausência de um líder à frente do Vaticano até a eleição de um novo pontífice. A partir de agora, os procedimentos seguem protocolos específicos que envolvem homenagens, velório, funeral e a convocação de um Conclave.
Francisco pediu funeral simples e será sepultado fora da Basílica de São Pedro
O corpo do Papa Francisco será tratado conforme ele mesmo determinou em vida. O Vaticano informou que ele pediu que seu funeral fosse simplificado e que seu corpo fosse sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma. A última vez que um papa foi sepultado fora da Basílica de São Pedro foi em 1903, com Leão XIII.
A morte do pontífice foi confirmada por meio de um rito tradicional, onde o camerlengo, cardeal Kevin Farrell, chamou o Papa três vezes pelo nome. Sem resposta, o falecimento foi oficialmente reconhecido. Em seguida, o Anel do Pescador, símbolo do pontificado, foi destruído com um martelo. O quarto onde ele vivia, na Casa Santa Marta, foi lacrado.
Ainda nesta segunda-feira, foram realizados três atos principais em Roma:
- 14h (horário de Brasília): missa de sufrágio na Basílica de São João de Latrão, celebrada pelo cardeal Baldo Reina
- 14h30: oração do terço na Praça de São Pedro
- 15h: deposição do corpo no caixão, na Capela de Santa Marta, sob condução do camerlengo
Na próxima quarta-feira, 23 de abril, o corpo será trasladado à Basílica de São Pedro, onde será exposto para visitação pública dos fiéis.
Missas de luto e homenagens pelo mundo
Durante nove dias consecutivos, a Igreja realizará as missas de novendiales, que marcam o luto oficial e orações em memória do Papa falecido. As celebrações acontecerão em Roma e em outras partes do mundo. Francisco havia aprovado em 2024 uma atualização no protocolo que organiza essas cerimônias, com orientações para simplificação dos ritos.
Líderes religiosos e políticos de diversos países já expressaram pesar. O Japão destacou a visita do papa em 2019 e seu discurso pela paz em Hiroshima e Nagasaki. O premiê japonês, Ishiba, declarou que “não é possível esconder a tristeza” e lembrou que Francisco trouxe uma mensagem forte de paz ao visitar as cidades atingidas pelas bombas atômicas.
Sobre a passagem do Papa pelo Japão, sobreviventes das explosões nucleares também prestaram homenagens. A senhora Kajimoto Yoshiko, de 94 anos, que apertou a mão do pontífice em Hiroshima, afirmou que “ele foi uma pessoa calorosa” e que ainda se lembra da frase “não se pode falar de paz com uma arma na mão”. Outro sobrevivente, Morishige Akira, de 88 anos, que o conheceu no mesmo evento, disse que o papa “esteve em Hiroshima para falar pela paz”.
Em Nagasaki, representantes da associação dos sobreviventes também manifestaram pesar. Tanaka Shigemitsu lembrou que o Papa orou por muito tempo durante sua visita ao Parque do Hipocentro e disse estar “muito triste com a morte”. Yokoyama Teruko, outra sobrevivente, afirmou que “esperava que ele ajudasse a acalmar as guerras atuais no mundo”.
Também foram divulgadas homenagens de outras autoridades internacionais, incluindo o rei Charles III do Reino Unido, os presidentes da França, Itália, Alemanha, Estados Unidos, Brasil, Argentina e o secretário-geral da ONU. A maioria destacou a atuação do papa em temas como paz, meio ambiente, justiça social e apoio aos mais pobres.
Quem comanda a Igreja agora e o que acontece nos próximos dias
Durante a Sé Vacante, o comando do Vaticano passa a ser temporariamente exercido pelo camerlengo, que administra os bens e organiza a transição de governo. Kevin Farrell é o atual camerlengo. Ao lado dele, alguns cargos seguem ativos, como o do Penitenciário-Mor, o Cardeal Vigário-Geral para Roma, o Vigário-Geral para o Vaticano, o Esmoleiro Apostólico e o Arcipreste da Basílica de São Pedro. Todos os outros altos cargos da Cúria Romana ficam suspensos.
O próximo passo é a convocação do Conclave, onde será escolhido o novo Papa. A votação deve começar entre 15 e 20 dias após a morte. O colégio que fará a escolha é formado por 135 cardeais com menos de 80 anos, sendo sete brasileiros entre os votantes:
- Leonardo Steiner (Manaus)
- João Braz de Aviz (Brasília)
- Paulo Cezar Costa (Brasília)
- Orani Tempesta (Rio de Janeiro)
- Odilo Scherer (São Paulo)
- Jaime Spengler (Porto Alegre)
- Sérgio da Rocha (Salvador)
Antes da eleição, os cardeais participam das Congregações Gerais, onde definem detalhes da votação, preparam a Capela Sistina e os alojamentos para os votantes.
Como funciona o Conclave
O Conclave acontece dentro da Capela Sistina, em um sistema de absoluto sigilo. Os cardeais ficam incomunicáveis e fazem até quatro votações por dia. Para ser eleito, um dos cardeais precisa obter dois terços dos votos. Se isso não acontecer após vários dias, é feito um segundo turno entre os dois mais votados.
Quando a decisão é tomada, os votos são queimados com produtos químicos que geram a fumaça branca, indicando ao público que um novo Papa foi eleito. Também é tocado o sino da Basílica de São Pedro. O novo Papa então é levado à “Sala das Lágrimas”, onde veste a batina branca e escolhe o nome que usará. Em seguida, é anunciado ao público com a tradicional frase “Habemus Papam”.
Legado e trajetória de Francisco
Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 1936. Entrou para a Companhia de Jesus em 1958 e foi ordenado padre em 1969. Se destacou por sua atuação junto aos pobres nas áreas mais carentes da capital argentina. Foi nomeado arcebispo de Buenos Aires em 1998 e tornou-se cardeal em 2001.
Em 2013, foi eleito papa, sendo o primeiro da América Latina e o primeiro jesuíta a ocupar o cargo. Durante seu pontificado, Francisco ficou marcado pela defesa dos pobres, pelo apelo ao fim das guerras, pela luta contra as mudanças climáticas e pela posição firme contra o uso e posse de armas nucleares.
Ele também promoveu mudanças dentro do Vaticano, simplificou rituais e deu mais espaço a mulheres em cargos importantes. Além disso, enfrentou críticas de setores conservadores por declarações sobre homossexuais, refugiados e questões econômicas.
Francisco também teve papel importante na relação com países como China e Rússia, e esteve presente em diversas crises internacionais pedindo paz e ajuda humanitária.