Cerca de 42 mil corpos foram deixados sem identificação ou sem serem reclamados por familiares no Japão durante o ano fiscal de 2023. O número foi revelado em uma estimativa inédita encomendada pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do país, e acende um alerta sobre o avanço da solidão entre a população idosa.
De acordo com o estudo, feito pelo Instituto de Pesquisa do Japão, esses corpos foram posteriormente cremados ou enterrados pelas autoridades locais. Ao todo, representam 2,7% de todas as mortes registradas no país no período.
O aumento de pessoas idosas vivendo sozinhas, sem apoio familiar, é apontado como uma das principais causas do fenômeno. Dados do Instituto Nacional de Pesquisa em População e Seguridade Social mostram que, até 2050, o Japão poderá ter 44,3% dos lares formados por apenas uma pessoa.
Outro problema é que a maioria dos municípios não possui regras claras sobre como lidar com esses casos. Entre as 1.160 prefeituras ouvidas, apenas 11,3% afirmaram ter algum tipo de protocolo. Já 43,5% disseram não ter nenhuma diretriz, e o restante informou seguir práticas de outros municípios.
As autoridades locais relatam dificuldades, inclusive, com situações em que parentes aparecem para reclamar os corpos após o processo de cremação já ter sido feito.
Um exemplo de iniciativa para enfrentar o problema vem da cidade de Yokosuka, perto de Tóquio. Desde 2015, o município possui um programa voltado para idosos de baixa renda e sem parentes. A prefeitura auxilia na criação de contratos com funerárias e acompanha o bem-estar dessas pessoas. Em caso de falecimento, o governo local se encarrega de comunicar instituições e contatos indicados.
Para Kazuyuki Kitami, responsável pela assistência social em Yokosuka, o número de mortes solitárias tende a crescer. “É importante que as cidades criem sistemas que respeitem a dignidade e os desejos dos moradores, mesmo após a morte”, afirmou.
Fonte: Mainichi