Pressionado pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos e diante da crescente influência da China na Ásia, o governo japonês tem buscado um caminho diplomático delicado para manter sua posição econômica e estratégica na região.
Na última semana, o principal negociador comercial do Japão esteve em Washington para mais uma rodada de conversas com autoridades norte-americanas. A missão tem como foco tentar reverter ou suavizar as tarifas anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump, que impôs uma taxa de 25% sobre as exportações japonesas de aço, alumínio e veículos. Além disso, há uma taxa base de 10% aplicada sobre produtos de quase todos os países, com exceção da China.
Apesar de a Casa Branca ter pausado temporariamente a aplicação total das tarifas, o impacto já é sentido em setores importantes da economia japonesa, especialmente na indústria automotiva. Segundo Ryosei Akazawa, chefe da equipe de negociação do Japão, as tarifas estão prejudicando o setor e o objetivo é buscar um acordo “completo, justo e rápido”.
Enquanto isso, Pequim tem se mostrado aberta a estreitar relações com Tóquio. Nos últimos dias, uma delegação do partido Komeito – que integra a base do governo japonês – esteve na China entregando uma carta do primeiro-ministro Shigeru Ishiba ao presidente Xi Jinping. O conteúdo da carta não foi divulgado, mas as discussões giraram em torno das tarifas dos EUA e de questões bilaterais.
A visita foi seguida por uma delegação parlamentar de amizade Japão-China. Durante os encontros, autoridades chinesas sinalizaram disposição para ampliar o diálogo com Tóquio, mesmo sem atender de imediato ao pedido japonês para suspender o embargo a produtos do mar do Japão, imposto desde 2023 devido a preocupações com a água tratada de Fukushima.
A aproximação acontece em um momento de incertezas na aliança Japão-EUA. A postura protecionista do governo Trump e a estratégia “América Primeiro” colocaram em xeque a confiabilidade de Washington como parceiro comercial. Ao mesmo tempo, a China tenta atrair aliados regionais que também enfrentam barreiras comerciais impostas pelos EUA.
Historicamente, a relação entre Japão e China é marcada por desconfiança mútua, especialmente por causa dos conflitos do século 20, como a ocupação da Manchúria e o Massacre de Nanjing. Mesmo com esse passado, Tóquio tem feito movimentos considerados pragmáticos para manter suas opções abertas diante do cenário internacional instável.
Segundo analistas, o Japão dificilmente abandonará sua aliança com os Estados Unidos, considerada essencial para sua segurança e política externa. Mas, ao mesmo tempo, busca reduzir o impacto das medidas norte-americanas sobre sua economia e evitar que a China use essa crise para enfraquecer os laços entre japoneses e americanos.
O próprio Ishiba tem adotado um tom mais equilibrado em relação à história de guerra, diferente de seus antecessores mais conservadores. Desde que assumiu o cargo em outubro, ele já conversou com Xi Jinping e reforçou a necessidade de diálogo entre os países.
Na tentativa de fortalecer parcerias alternativas, Ishiba também visitou o Vietnã e as Filipinas na semana passada, onde firmou compromissos de cooperação em segurança e comércio. Ele ainda manteve conversas por telefone com líderes da Malásia e de Singapura para discutir o impacto das tarifas americanas na região.
A China também tem intensificado sua presença no Sudeste Asiático, com visitas recentes de Xi Jinping a países como Vietnã, Malásia e Camboja, buscando reforçar cadeias de suprimentos e defender o livre comércio.
Fonte: Kyodo News