O Jikei Hospital, localizado na cidade de Kumamoto, é atualmente o único hospital no Japão que oferece um programa de partos confidenciais, permitindo que mulheres deem à luz de forma anônima. Desde 2021, a iniciativa tem ajudado mulheres em situações difíceis a terem seus bebês em um ambiente seguro, sem precisar revelar sua identidade ao público, mas apenas a profissionais especializados da instituição.
Como funciona o programa
O processo começa com o contato das mulheres interessadas por meio do escritório de consulta neonatal do hospital. Com uma equipe composta por 12 conselheiros, o atendimento é realizado por e-mail ou telefone, e parte da equipe trabalha remotamente para oferecer suporte 24 horas por dia.
Segundo Yuki Nishimori, uma das conselheiras, os pedidos de ajuda frequentemente chegam de forma breve e direta, indicando a urgência da situação. “As mensagens curtas como ‘não sei o que fazer’ ou ‘não tenho ninguém para conversar’ mostram a gravidade das circunstâncias em que essas mulheres se encontram”, relata Nishimori. Algumas até entram em contato enquanto já estão em trabalho de parto.
Ao serem atendidas, as mulheres são orientadas sobre as opções disponíveis para garantir a segurança delas e dos bebês, sempre com uma abordagem acolhedora e empática.
Sistema inédito no Japão
O hospital já era conhecido pelo programa “Konotori no Yurikago” (Berço das Cegonhas), iniciado em 2007, que permite que mães deixem seus bebês indesejados de forma anônima sob os cuidados da instituição. Porém, ao perceber o aumento de casos de mulheres dando à luz sem assistência médica, o hospital decidiu criar o sistema de partos confidenciais para reduzir os riscos de complicações e abandono de recém-nascidos.
Desde o primeiro parto confidencial, realizado em dezembro de 2021, o hospital já auxiliou 37 mulheres, vindas de várias partes do Japão, incluindo regiões distantes e ilhas remotas.
Desafios legais e próximos passos
Apesar do sucesso do programa, o diretor do hospital, Takeshi Hasuda, afirma que a falta de uma legislação específica é um grande obstáculo para a ampliação da prática. Embora o governo japonês reconheça que os partos confidenciais “não violam leis”, Hasuda defende que é necessário um marco legal para garantir mais segurança tanto para as mulheres quanto para os profissionais de saúde.
Outro ponto em discussão é o direito das crianças de conhecerem suas origens. Em países como Coreia do Sul, França e Alemanha, sistemas legais definem regras claras para a proteção das informações das mães e o acesso dos filhos a essas informações no futuro.
Makoto Hasuda, responsável pelo escritório de consultas neonatais, destacou que o aumento da demanda preocupa a equipe. “Com mais mulheres procurando ajuda, é difícil imaginar como lidar com tudo isso sem mais suporte e sem uma base legal clara”, disse.
Ela ainda reforça que a legislação poderia dar mais tranquilidade às mães: “Se o governo reconhecer o parto confidencial como uma opção válida, poderemos garantir às mulheres que essa escolha é legal e segura, eliminando o sentimento de culpa.”
Fonte: Asahi