O Japão tem evitado conflitos militares desde o fim da Segunda Guerra Mundial, mantendo uma política de defesa baseada no pacifismo. No entanto, as crescentes tensões na Ásia, impulsionadas pelas disputas territoriais com a China, as ameaças de mísseis da Coreia do Norte e a possibilidade de um confronto entre China e Taiwan, levantam questionamentos sobre o que aconteceria caso o país fosse atacado. Com um cenário geopolítico cada vez mais instável, a resposta do governo japonês e a reação da comunidade internacional seriam decisivas para o desenrolar da situação.
Resposta imediata e medidas de segurança
Se o Japão sofresse um ataque militar, o governo declararia estado de emergência e adotaria medidas para conter a situação. A primeira ação seria a ativação do sistema de alerta J-Alert, que enviaria mensagens de emergência para celulares, televisões e rádios, alertando a população sobre a necessidade de buscar abrigo ou evacuar determinadas áreas. As autoridades poderiam impor toques de recolher, restrições ao transporte e ao uso de infraestrutura, além de mobilizar as forças policiais e equipes de resgate para manter a ordem.
O Japão possui um exército de autodefesa limitado pela Constituição, mas mudanças recentes permitiram a adoção de medidas mais assertivas em caso de ameaça. Em 2014, uma nova interpretação da lei permitiu que o país exercesse a autodefesa coletiva, possibilitando que as Forças de Autodefesa do Japão (JSDF) revidassem caso um ataque colocasse em risco sua sobrevivência. Em 2022, o governo avançou ainda mais, adquirindo capacidade de contra-ataque, permitindo atingir bases inimigas se um ataque fosse iminente. Apesar dessas mudanças, o Japão ainda não pode iniciar um conflito e só pode agir sob condições estritas de autodefesa.
A importância das Forças de Autodefesa do Japão
Caso houvesse um ataque, a Marinha do Japão, que atualmente conta com 155 navios de guerra ativos, entraria em ação. No entanto, o país enfrenta uma desvantagem numérica significativa quando comparado a seus vizinhos. A China possui cerca de 730 navios, enquanto a Coreia do Norte tem 505. Isso significa que, em um confronto prolongado, o Japão dependeria fortemente do apoio militar dos Estados Unidos e de seus aliados.
O governo também precisaria enfrentar ameaças que vão além de ataques diretos. Conflitos modernos envolvem guerras cibernéticas, ataques híbridos e sabotagens econômicas, o que exigiria uma resposta coordenada para proteger não apenas o território, mas também setores estratégicos, como infraestrutura energética e sistemas de comunicação.
Evacuação e dificuldades para estrangeiros
A população japonesa estaria sujeita a evacuações coordenadas pelo governo, com abrigos de emergência preparados para receber os civis. Esses locais, chamados de hinanjo, geralmente são instalados em escolas, centros comunitários e ginásios, oferecendo abrigo temporário. No entanto, há um grande desafio para estrangeiros que vivem no Japão, pois a maioria desses abrigos opera apenas em japonês.
Em cidades grandes, como Tóquio e Osaka, pode haver suporte multilíngue, mas em regiões menores, o acesso à informação seria mais complicado. Residentes estrangeiros poderiam enfrentar dificuldades para entender instruções de evacuação e obter suporte em meio ao caos. Por isso, seria essencial que se preparassem com antecedência, baixando aplicativos de tradução ou carregando guias de frases de emergência em japonês.
Outra preocupação seria a possível interrupção das rotas de viagem. Se aeroportos e portos fossem fechados, estrangeiros que desejassem deixar o Japão dependeriam de suas embaixadas para conseguir sair do país. Em cenários extremos, os governos de outros países poderiam organizar voos ou navios de repatriação, como já ocorreu em crises anteriores.
O papel dos Estados Unidos na defesa do Japão
A presença militar dos Estados Unidos no Japão seria um fator decisivo em caso de guerra. O Tratado de Segurança Japão-EUA obriga os americanos a defenderem o Japão caso o país seja atacado. Atualmente, os EUA mantêm cerca de 120 bases militares no Japão, sendo que 32 delas estão em Okinawa, um ponto estratégico na região. As principais instalações incluem a Base Aérea de Yokota, em Tóquio, a Base Naval de Yokosuka, em Kanagawa, e a Base Aérea de Kadena, em Okinawa.
Se um ataque fosse confirmado, a resposta dos EUA dependeria da natureza do confronto. Se o agressor fosse um país como China ou Coreia do Norte, os americanos provavelmente responderiam com ações militares diretas, incluindo ataques aéreos e operações navais. No entanto, se o conflito envolvesse ataques cibernéticos, embargos econômicos ou operações de guerra híbrida, os EUA poderiam optar por uma abordagem diplomática, aplicando sanções antes de uma intervenção militar.
A rapidez da resposta também dependeria do pedido formal do Japão. O governo japonês teria que acionar o tratado para garantir o envolvimento militar dos EUA, o que poderia levar algum tempo dependendo da gravidade da situação.
Reação da comunidade internacional
A resposta global a um ataque ao Japão envolveria ações diplomáticas imediatas. O governo japonês levaria a questão ao Conselho de Segurança da ONU, buscando apoio para sanções contra o país agressor. Além dos Estados Unidos, países como Coreia do Sul, Austrália e membros da União Europeia provavelmente condenariam o ataque e adotariam medidas econômicas para pressionar o agressor.
No entanto, a reação internacional dependeria da escala do conflito. Em 2022, quando a Coreia do Norte lançou um míssil sobre o Japão, o governo japonês ativou o J-Alert, interrompeu o transporte público em algumas regiões e condenou o ato na ONU. Apesar da tensão momentânea, a situação foi controlada e os cidadãos retomaram suas atividades normais rapidamente. Caso um ataque fosse mais grave, a reação internacional poderia incluir bloqueios econômicos, reforço de tropas na região e uma intensificação da presença militar dos aliados do Japão no Pacífico.
O que aconteceria com os estrangeiros e seus vistos?
Não há precedentes sobre como o Japão lidaria com vistos e residência durante uma guerra, mas crises passadas podem dar algumas pistas. Durante o terremoto de Tohoku, em 2011, o governo japonês flexibilizou as regras de imigração para permitir que estrangeiros permanecessem no país sem penalidades. Vistos foram prorrogados automaticamente e muitas embaixadas organizaram evacuações para seus cidadãos.
Já na pandemia de COVID-19, as autoridades japonesas impuseram algumas das restrições mais rigorosas do mundo, incluindo o fechamento total das fronteiras e a proibição de retorno até mesmo de residentes estrangeiros de longa data. Se uma guerra acontecesse, é possível que medidas semelhantes fossem adotadas, dificultando a entrada e saída do país.
O Japão está preparado para um conflito?
Apesar de sua longa tradição pacifista, o Japão tem se preparado para enfrentar possíveis ameaças. O fortalecimento das Forças de Autodefesa e a aliança com os EUA garantem um nível de proteção, mas o país ainda enfrentaria desafios em caso de guerra. A resposta da comunidade internacional, a velocidade de reação dos aliados e a capacidade da população de lidar com uma crise seriam fatores determinantes para o desenrolar do conflito.
Fonte: Gajing