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O último adeus no Japão: como funcionam os funerais japoneses

No Japão, a despedida de um ente querido é marcada por tradição, respeito e um profundo simbolismo. Os funerais japoneses seguem rituais ancestrais, moldados pelo budismo e pela crença de que a conexão com os que partiram permanece viva. Diferente do que se vê no Ocidente, essas cerimônias são discretas, formais e carregadas de significado. Desde a vestimenta até a forma de oferecer condolências, cada detalhe tem uma razão de ser, refletindo o compromisso dos japoneses com a honra e a memória dos falecidos.

Antigamente, os funerais aconteciam nas próprias casas ou em templos, reunindo toda a comunidade para prestar apoio à família enlutada. A cremação, que hoje é quase universal no Japão, se tornou comum ainda no período Edo. O respeito aos ancestrais era — e continua sendo — uma parte essencial do ritual, pois acredita-se que os mortos seguem espiritualmente ligados aos vivos. Com o passar do tempo, porém, os costumes mudaram. Hoje, a maioria das cerimônias acontece em funerárias, com ritos mais curtos e organizados, adaptados à rotina moderna. Embora o budismo ainda esteja presente na maioria dos funerais, algumas famílias escolhem cerimônias seculares.

O funeral segue uma sequência bem definida. Tudo começa com o otsuya, o velório, que acontece na noite anterior à cerimônia principal. É um momento íntimo, onde familiares e amigos próximos se reúnem para prestar suas últimas homenagens. No altar, um monge budista recita sutras, enquanto os presentes oferecem incenso em um gesto silencioso de respeito. No dia seguinte, acontece o kokubetsu-shiki, a cerimônia principal, realizada em um templo, funerária ou na casa da família. Assim como no velório, o incenso ocupa um papel central no ritual, simbolizando a passagem da alma e a transitoriedade da vida. Após a cerimônia, vem um dos momentos mais marcantes: a cremação. Diferente de muitas culturas, onde o sepultamento é comum, no Japão a cremação é praticamente uma regra. As cinzas do falecido costumam ser guardadas em túmulos familiares ou no butsudan, um altar doméstico onde os ancestrais são reverenciados.

O luto no Japão também se expressa pela vestimenta, que segue um padrão rígido. O preto é a única cor aceita, e qualquer detalhe que fuja da sobriedade pode ser visto como desrespeitoso. Para os homens, o traje deve ser um terno preto sem brilho, combinado com camisa branca e gravata preta lisa. Sapatos discretos e bem cuidados completam o visual. Para as mulheres, o mais adequado é um vestido preto, um kimono tradicional ou um conjunto formal. O comprimento da roupa deve cobrir os joelhos e decotes não são permitidos. Meias pretas são obrigatórias, e os sapatos precisam ser fechados, sem brilho e de salto baixo. A maquiagem deve ser suave, e os cabelos, presos de maneira discreta. Poucas joias são aceitas: apenas aliança de casamento e colares de pérolas, que simbolizam as lágrimas do luto. Até mesmo bolsas e guarda-chuvas devem ser pretos ou em tons escuros, sem estampas ou detalhes chamativos. Caso crianças participem do funeral, elas também devem usar roupas escuras e formais.

Além da vestimenta, há outras regras de etiqueta que devem ser seguidas rigorosamente. Ao chegar, o visitante deve fazer uma reverência profunda para a família enlutada e oferecer suas condolências de maneira breve. O silêncio e a discrição são essenciais durante toda a cerimônia. Não é comum que os convidados se dirijam diretamente ao falecido ou toquem no caixão, como acontece em outros países. Muitos permanecem até o início da cremação, mas se precisar sair antes, o importante é fazer isso sem chamar atenção.

Outro aspecto fundamental do funeral japonês é o kōden, o dinheiro de condolências. Essa prática ajuda a cobrir os custos da cerimônia e demonstra apoio à família. O valor varia conforme a proximidade com o falecido, podendo ir de três mil a cinquenta mil ienes. O kōden deve ser entregue em um envelope especial, chamado kōden bukuro, que traz um laço preto e branco ou prata e branco. Uma tradição curiosa envolve as cédulas: oferecer dinheiro novo pode ser visto como um sinal de que a morte foi esperada, por isso, o ideal é usar notas um pouco desgastadas. Diferente do que ocorre em outros países, flores e presentes não são comuns em funerais no Japão.

A oferenda de incenso, por sua vez, é um dos momentos mais simbólicos da cerimônia. O aroma se espalha pelo ambiente enquanto os participantes fazem gestos cuidadosos e silenciosos. Há duas formas principais de realizar essa homenagem. Se o incenso for em pó, o ritual consiste em pegar um pouco com a mão direita, levar até a testa e depois depositá-lo no queimador. Esse gesto pode ser repetido de uma a três vezes, conforme a tradição da família. Já no caso do incenso em bastão, ele deve ser aceso com uma vela e a chama precisa ser apagada abanando com a mão, nunca soprando. O bastão é então colocado no queimador, e uma breve reverência finaliza o ritual.

Os funerais no Japão são um reflexo da cultura e dos valores do país. Mesmo com a modernização dos costumes, o respeito aos mortos continua sendo levado muito a sério. Mais do que um momento de despedida, essas cerimônias são um ato de honra e reconhecimento, reforçando a crença de que, mesmo após a morte, os laços entre os vivos e os que partiram nunca se desfazem.

Fonte: Gajing

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