A economia japonesa registrou um crescimento real de 0,9% entre julho e setembro de 2024, de acordo com dados preliminares divulgados pelo governo. O aumento foi impulsionado principalmente pelo consumo das famílias, que recebeu incentivos como um corte pontual no imposto de renda e bônus de verão mais elevados. Apesar disso, a desaceleração em relação ao trimestre anterior levanta dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento nos próximos meses.
Segundo o relatório do Escritório do Gabinete, o Produto Interno Bruto (PIB), ajustado pela inflação, registrou expansão de 0,2% em comparação ao período de abril a junho. Esse foi o segundo trimestre consecutivo de crescimento, mas em ritmo inferior aos 2,2% revisados do trimestre anterior. O PIB reflete o valor total de bens e serviços produzidos no país.
Consumo impulsiona, mas dúvidas persistem
O consumo privado, responsável por mais da metade da economia japonesa, cresceu 0,9% no período. Esse avanço foi atribuído a fatores excepcionais, como a retomada de algumas fábricas de automóveis após paralisações causadas por testes não conformes e um aumento nas compras de alimentos emergenciais devido a um alerta sobre um possível mega terremoto na região da Fossa de Nankai.
“O consumo acelerou devido a estímulos como o corte de impostos e bônus de verão, mas esses efeitos são temporários”, afirmou Shinichiro Kobayashi, economista sênior da Mitsubishi UFJ Research and Consulting. Ele destacou que a continuidade do crescimento depende de como as famílias reagirão a fatores econômicos adversos, como a alta nos preços.
A desvalorização do iene, que na sexta-feira atingiu o nível mais baixo em quatro meses frente ao dólar, também preocupa. O enfraquecimento da moeda pode encarecer produtos importados, pressionando ainda mais o orçamento doméstico em um cenário de inflação crescente. Além disso, os salários reais, que consideram o impacto da inflação, caíram pelo segundo mês consecutivo em setembro, mesmo após aumentos salariais significativos negociados no início do ano.
Investimentos e exportações em queda
Os investimentos de capital recuaram 0,2% no trimestre, após um crescimento no período anterior. Empresas japonesas reduziram os gastos com maquinário, refletindo preocupações com a desaceleração da economia global, especialmente na China, e incertezas em relação às políticas econômicas internacionais.
As exportações, por sua vez, cresceram apenas 0,4%, um desempenho bem mais modesto do que o avanço de 2,6% registrado no trimestre anterior. O enfraquecimento no fluxo de turistas estrangeiros, que vinha beneficiando a economia, foi apontado como um dos fatores para o resultado. Embora a desvalorização do iene torne o Japão um destino mais barato para visitantes, o número de turistas mostrou sinais de estagnação.
Por outro lado, as importações subiram 2,1%, impactadas pela maior demanda por smartphones fabricados no exterior, o que contribuiu negativamente para o cálculo do PIB.
Perspectivas incertas
Especialistas alertam para desafios no cenário econômico global e interno. Entre os fatores internacionais, estão a desaceleração da economia chinesa e as possíveis consequências das políticas econômicas de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos. Algumas dessas medidas, como cortes de impostos, podem ampliar a diferença de taxas de juros entre os dois países, fortalecendo ainda mais o dólar em relação ao iene e pressionando os consumidores japoneses.
O crescimento nominal do PIB, que não considera os ajustes de inflação, foi de 0,5% em relação ao trimestre anterior, o equivalente a 2,1% em termos anualizados.
Fonte: Asahi