As famílias no Japão voltaram a reduzir seus gastos em setembro, marcando o segundo mês consecutivo de retração em meio ao aumento contínuo dos preços. Dados do Ministério de Assuntos Internos, divulgados nesta sexta-feira, mostram que os gastos domésticos caíram 1,1% em relação ao mesmo período do ano passado, uma queda menor do que a estimativa de 1,8% prevista por economistas, mas que seguiu a baixa de 1,9% registrada em agosto.
Essa é a segunda queda consecutiva nos últimos meses, o que reforça um padrão de gastos domésticos fracos em um cenário econômico onde a inflação continua acima da meta do Banco do Japão (BOJ) há 30 meses.
Principais setores e impacto econômico
A queda nos gastos foi puxada principalmente pelo setor automotivo, onde o consumo despencou 40,1% em comparação com o ano anterior, afetado por um escândalo de certificação de segurança que continua pesando no setor. Esse fator contribuiu para a queda dos dados gerais, subtraindo 1,47 pontos percentuais do total.
Outros setores, como habitação, transporte, comunicação e saúde, também registraram quedas. Por outro lado, despesas com vestuário, calçados e educação tiveram um leve aumento, destacando uma variação no comportamento de consumo das famílias.
Desafios econômicos e moeda desvalorizada
A desvalorização do iene continua sendo um fator central no enfraquecimento do poder de compra das famílias japonesas. A moeda atingiu seu nível mais fraco em quase três meses em outubro, o que levou a uma queda na confiança do consumidor, a primeira em cinco meses. A eleição presidencial nos Estados Unidos, com a vitória de Donald Trump, contribuiu para a retomada da queda do iene, gerando preocupações sobre um possível aumento da inflação devido aos custos mais altos de importação.
Esse contexto pode acelerar a decisão do BOJ em antecipar um possível aumento da taxa de juros, potencialmente ainda em dezembro, conforme apontado por Kazuo Momma, ex-diretor do banco.
Aposta no aumento dos salários
Apesar do cenário desafiador, as autoridades japonesas esperam que o crescimento salarial possa ajudar a reverter a tendência de queda no consumo. Em setembro, os salários-base apresentaram o maior aumento dos últimos 31 anos, de acordo com dados governamentais. Porém, como destaca o economista Masato Koike, se o consumo continuar fraco mesmo com o aumento salarial, o BOJ pode ter que reavaliar sua posição, o que poderia impactar as futuras decisões de política monetária.
O relatório do Ministério de Assuntos Internos será um elemento importante na análise do crescimento econômico do terceiro trimestre, cujos resultados serão divulgados em breve. O consumo real das famílias com dois ou mais membros caiu 1% no trimestre, apontando para um crescimento econômico anualizado de apenas 0,6%, segundo estimativas dos economistas.
Fonte: Japan Times