29/09/2024 09:20

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Setembro Amarelo: a imigração pode afetar a saúde mental, descubra o que fazer

Laço setembro amarelo

Suicídio é uma epidemia silenciosa e pode ser maior entre jovens e idosos; apesar disso, é possível prevenir, tratar e recomeçar

Apesar de a saúde mental requerer atenção todos os dias do ano, a campanha do Setembro Amarelo é importante para relembrar os sinais, tratamentos e a esperança em dias melhores. “É possível prevenir, tratar e não ter mais esse tipo de sentimento”, declara Louise Monteiro, psicóloga do Projeto Tsuru. A especialista explica que 98% dos casos de suicídio são relacionados a “algum transtorno ou doença mental que não foi tratado e nem diagnosticado”. O debate sobre o tema ajuda a identificar sinais, desmistificar tabus e encorajar a busca por ajuda.

Quais os fatores de risco para o suicídio?

Em primeiro lugar estão as doenças psiquiátricas, como, por exemplo, a depressão. Depois, histórico de tentativas e antecedentes familiares. O abuso de substâncias como álcool e drogas pode servir de gatilho, gerando picos de euforia seguidos de depressão e ideação suicida. Também são fatores de risco os traumas na infância e comportamento impulsivo ou agressivo.

No caso da população de imigrantes, além dos riscos já apresentados, é preciso atenção aos fatores sociais. Entre eles estão o isolamento e a instabilidade financeira. Imigrantes também estão mais suscetíveis às doenças mentais, em especial pelas condições de trabalho. Longas jornadas, estresse e baixa identificação com a profissão atual podem colaborar para o adoecimento mental. Além disso, a adaptação a uma cultura totalmente diferente é por si só estressora. “As redes de apoio, que também não são mais estáveis como seriam no país de origem, também são fatores que tornam ainda mais difíceis as condições do imigrante. Eles ficam mais vulneráveis”, conclui a Dr.ᵃ Louise.

Todas essas adaptações simultâneas podem aumentar “as chances de desenvolvimento de problemas de saúde mental e, em consequência, levar ao suicídio”. Segundo a especialista, há risco maior nos primeiros anos de imigração.

Identifique quem precisa de ajuda

Perguntada sobre os sinais para identificar quem precisa de ajuda, Dr.ᵃ Louise recomenda uma escuta cuidadosa. “A gente costuma ficar atento às falas”. Frases como “gostaria de sumir” ou “gostaria que as coisas acabassem” merecem atenção. O comportamento da pessoa também muda para o isolamento social. “A gente percebe que tem alguma coisa errada”, alerta.

Sobre os jovens e adolescentes, é importante ouvir atentamente e saber o que está acontecendo em suas vidas. Principalmente quando há suspeita de algum problema de saúde mental. “Procurar saber o que ele está sentindo sem julgamentos ou preconceitos”.

Psicóloga Louise Monteiro

Durante o diálogo, é preciso cuidado para não fazer comparações com outras pessoas conhecidas. Evitar comentários que minimizem ou invalidem o sentimento do outro, por exemplo, “isso não é nada”. Também é importante não rir ou fazer piadas na tentativa de melhorar o humor. Essas atitudes não geram “um ambiente acolhedor para que ele possa falar sobre ideação suicida, se ele tiver”, explica a psicóloga.

Sobre as crianças, frases como “eu gostaria de sumir, não gostaria de estar aqui”, podem dar sinais de atenção. Crianças em idade escolar podem sofrer pelas pressões acadêmicas e bullying. Apesar do suicídio acometer diferentes idades e da necessidade de prevenção e combate em todas elas, estudos mostram que jovens entre 15 e 29 anos e idosos são os mais afetados.

“É uma das cinco principais causas de mortes entre os jovens, então é algo grave. […] Os idosos também são mais suscetíveis dada as condições de saúde, de estar no mundo como um idoso”. Em resultados absolutos, homens cometem mais suicídios do que mulheres. “A explicação gira em torno do fato de que, possivelmente, eles têm mais dificuldade em pedir ajuda por razões sociais”.

Apesar o tabu em torno do tema, Dr.ᵃ Louise enfatiza que falar sobre o suicídio é importante, em especial para prevenção e tratamento adequado. “A gente normalmente tem medo de falar sobre […] há um estigma grande na sociedade sobre, mas a verdade é que se nós não falarmos, vai começar a acontecer sem que a gente perceba o que está acontecendo […] falar sobre isso, não é incentivar. Pelo contrário! É alertar as pessoas para que elas possam reconhecer que existe uma situação de saúde mental que precisa ser tratada. Assim como alertar sobre o uso de drogas não é incentivar o uso de drogas”.

Proteção, prevenção e tratamento

Entre os fatores de proteção e prevenção, em especial para imigrantes, está o aumento de contato com os familiares e amigos. “Formar uma rede de apoio”, com as pessoas do país de origem e do país atual. “Buscar o mais próximo e o mais longe”, reforça sobre a importância de estar cercado de pessoas.

Outro pilar é a busca e aderência ao tratamento adequado para as condições de saúde mental, se elas forem identificadas. Os cuidados podem incluir psicoterapia e medicação. Além disso, o envolvimento com atividades significativas e prazerosas é essencial para a qualidade de vida. Com a rotina agitada do Japão, há o risco de esquecer-se de si, deixando de lado atividades de bem-estar. “Vivemos tentando escapar do estresse e não damos significado ao nosso presente”.

Além disso, é essencial combater de forma direta os fatores de risco já citados. É preciso reduzir e eliminar vícios, uso de álcool e drogas, utilizados como válvulas de escape extremamente danosas. Existem outras formas de se sentir bem, como a prática de exercícios físicos, atividades de lazer, alimentação saudável e rotina, em especial com sono de qualidade.

Sobre o tratamento, a psicóloga esclarece: “Normalmente, quando a pessoa entra em tratamento, consegue acesso ao serviço de saúde, ela passa a não querer mais fazer isso. Então, era uma condição de sofrimento que foi imposta e isso modificou a visão dela da realidade, achando que suicídio era a única opção. Quando ela entra em tratamento e tem todo o apoio necessário, ela para de pensar desse jeito e ela consegue sair disso. Então, sim, nós consideramos que esse suicídio é uma condição que tem tratamento. É possível prevenir, tratar e não ter mais esse tipo de sentimento”.

Onde buscar ajuda?

No Japão, os brasileiros que gostariam de ter acesso a um atendimento psicológico podem se dirigir ao Consulado do Brasil, em Nagoya e em Tóquio, por exemplo. Os consulados oferecem o serviço, a princípio gratuito. “Que a pessoa tenha um contato inicial com o tratamento e depois possa dar continuidade a ele. É feito por brasileiros, para brasileiros e na língua portuguesa. Sabemos o quanto é difícil é acessar os serviços de saúde numa língua estrangeira”.

No Brasil, existe o atendimento do Centro de Valorização à Vida (CVV). O serviço funciona em território nacional através do telefone 188. Para brasileiros residentes no Japão, é possível também entrar em contato através do e-mail [email protected], ou do chat disponibilizado no site da instituição.

Além dos serviços brasileiros, existem linhas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde Japonês, o Yorisoi Hotline, disponível no número 0120-279-338 – ligação gratuita e protegida por sigilo. Existem outras linhas diretas conhecidas, como a Life Link. Além dela, você pode encontrar outras treze redes de apoio no Japão, para diferentes situações, clicando aqui.

Lidar com o luto e a saudade

Para aqueles que perderam entes queridos e amigos desta forma, Dr.ᵃ Louise frisa a importância de buscar ajuda. “A gente gostaria de ter percebido antes e lidado com ela. Infelizmente, não pode”.

É difícil continuar após uma perda, e quem vivenciou isso tem também o direito se cuidar. “Nós não precisamos estar sozinhos para resolver as coisas. Precisamos uns dos outros. Sem preconceito, sem estigma, buscar ajuda para conseguirmos viver melhor, apesar de isso ter acontecido ou não”. Ela frisa que, em geral, as pessoas procuram culpados e por razões para explicar o que aconteceu, “mas entendemos que é uma condição de saúde”, fazendo referência à íntima conexão entre os casos de suicídio e problemas de saúde mental.

Temos muita dificuldade ainda hoje na sociedade em lidar com esse tipo de coisa. Em falar sobre e, consequentemente, em reconhecer e então poder ajudar essas pessoas”, conclui.

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